A terceira cultura, o autismo e a génia da lâmpada


Uma nova terceira cultura é um tema que me fascina, meu caro, e sabe porquê, sabe porquê? Claro que não sabe, mas sempre lhe digo que, desde que li este livro do meu conhecido e amigo Charles Percy Snow, tudo tenho feito para promover uma terceira cultura, uma cultura em que os cientistas falam e dialogam com o público em geral..., tipo TED... Aconteceu algo consigo, pela certa, neste domingo pingão e frio, respondi com ar convicto à provocação da única fada que não dá ponto sem nó (o que lhe terá acontecido?!). Sei bem, arrisquei, que as duas culturas a que C. P. Snow (físico e novelista inglês) se refere - a humanística e a científica - comunicavam (e comunicam) pouco (nos dias de hoje já dialogam um pouquito mais), e sei que o objectivo desse seu curioso amigo, era que essas duas culturas passassem a dialogar uma com a outra, e esse diálogo constituiria uma terceira cultura, verdade? Espertinho, ripostou, espertinho, até que foi mais ou menos assim, só que nicles: a não ser nalgumas honrosas excepções essa terceira cultura não apareceu, esteve anos e anos ausente, primou pela ausência... Mas tem razão, hoje deparei-me com uma criança com autismo (e a mãe dela - pouco informada - até me xingou), e mais uma vez, vida a minha, confirmei que todos (neste todos incluo especialmente os responsáveis por este sistema) devíamos ter acesso e partilhar os saberes duma nova terceira cultura... Percebi, dei por mim a pensar e a dizer, que como essa terceira cultura (a cultura humanística e a cultura científica em diálogo) não apareceu, os cientistas tomaram a dianteira e desataram a explicar e a dialogar ciência...; e (surpresa) a ciência, que andava arredada dos círculos sociais e culturais, começou a substituir a arte no diálogo com as pessoas com o recurso a tecnologia de ponta... Oh, oh, oh, meu caro, trauteou enquanto saltitava curvilínea, tem a certeza de que não caiu e que não bateu com a cabeça numa pedra, tem mesmo a certeza? Estou deveras admirada consigo, então não é que está a pensar bem e a dizer melhor? Tem mesmo a certeza de que não caiu e que não bateu com a cabeça? Dispenso gracinhas, disparei, não, não caí e não bati com a cabeça, vamos ao que interessa, como caracterizaria então esta nova terceira cultura, importa-se de me explicar? Oh pá, oh pá, oh pá, danou-se, suspirou (até os olhos grandes se desbogalharam num sorriso tímido): bom, meu caro, esta nova e interessante terceira cultura está "conformada por cientistas e por outros pensadores que, através dos seus trabalhos e dos seus escritos, estão tomando o lugar do intelectual tradicional (sei lá eu, filósofos, poetas e quejandos) ao tornar visíveis os significados mais profundos das nossas vidas e ao redefinir quem e como somos"... Está a dizer-me, alvitrei a medo, que a ciência persegue a verdade e a arte a condição humana; (está a dizer-me) que a nova terceira cultura apoia o rigor científico mas o que a faz movimentar é a novidade; (está a dizer-me) que se os cientistas experimentam com a mente e se os artistas a contemplam e abstraem, é a nova terceira cultura que produz a mente? Olálá! Não percebo nada, nadinha... Meu caro, sussurrou, estou siderada consigo, vou pensar (com muito carinho) no seu arrazoado meio atabalhoado, mas sempre lhe digo para ouvir (e pensar e digerir) algo muito interessante sobre o autismo: trata-se de um magnífico exemplo da virtualidade da nova terceira cultura. Obrigado, retorqui, vou ouvir e pensar e digerir o que me sugere..., mas não me falou da imagem, uma lâmpada com fumo branco, será mesmo? Ela, surpresa, riu-se a bandeiras despregadas com minha pergunta e, linda de viver (que vestido tão ondulado), soprou-me no meu ouvido zonzo: o fumo branco sou eu, eu sou a génia da lâmpada!

Adenda (mensagem recebida)

Daqui lhe escreve a "génia da lâmpada" ou, se preferir, a "Genhipatiana" do século XXI! - (Lembra-se da Hipátia, pois não lembra?) - Ah, pois, pois! Estou empolgadíssima com este meu estatuto de soberba genialidade, pois, pois!... Gostei muito desta abordagem ao tema do autismo, de vez em quando, este tema volta. Tanta é a desinformação geral, que me vejo obrigada a aplaudir as nossas conversas inteligentes sobre o mesmo, vida a minha. Veja lá se não se tornam numa rotina!... Rotina inteligente, não sei se percebeu. Bem, melhor seria que o “sistema nacional de intervenção precoce na infância” desse enfoque, em simultâneo, às crianças com autismo e às suas famílias. Os melhores cuidadores e educadores e sensibilizadores acerca das questões que o autismo suscita em todos nós (até nas fadas, digo eu que sei do que falo) são os familiares que mais directamente vivem e convivem com os autistas. Pessoas diferentes, meu caro, devem ter atenções diferentes, não vale a pena fazer como uma minha amiga a Ema (tem o pescoço alto como eu, só que é alta e um pouco desengonçada, menos fadada do que eu...) que põe a cabeça debaixo da areia, e que me disse há dias, sobre o autismo, que não é nada de especial… É claro que é especial, especialíssimo, e deve ter atenção redobrada, pois todos merecem o melhor e serem felizes. Pensa o mesmo, pois não pensa? O que eu quero é o melhor para todos. Quero e quero e quero... Plim!Plim!

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