Pedi-lhe emprestada a gaguez
Pronto, alguma vez tinha que acontecer, meu caro, eu sabia que haveria de acontecer, teria que acontecer, vida a minha, vida a minha! Acabam publicitar um desenho, rabiscado por mim a partir do excelente funcionamento do meu excelente e disputado cérebro - lindo de se deitar os olhos -, para ilustrar um interessante trabalho de investigação sobre a teoria das redes complexas..., e não é justo, não é justo, não é justo (ou se calhar até é...). Cala-te, adverti-me a mim próprio, deixa que ela que é fada (e que rabisca desenhos complicados para serem simples) se amanhe com tamanho desaforo; ouve, isso sim, com muita atenção o que (e do que e como) ela resmunga... Então aqueles maduros já sabem, suspirou, que eu sou o verdadeiro paradigma dos sistemas complexos, sistemas complexos onde a interacção entre os seus elementos dá lugar a fenómenos emergentes que nunca poderiam explicar-se mediante a análise dos seus componentes em separado. Claro que já sabem, e até já se habituaram a abusar da minha proverbial dedicação a causas nobres. Sou assim, sou assim, que se há-de fazer! Exclamou ainda de olhos grandes ávidos de olhar-só-assim, com mãos mágicas de dedos inquietos e com aura dançante de quero-apenas-carícias-continuadas... Presunção e água benta cada um tem a que quer e sempre e quando lhe convém, comentava eu comigo próprio, quando ela gaguejou, ruborizada: em dia de pássaras e pardalas à solta, pode rir-se em modo e jeito de ã, ã, ã, ã, que eu deixo... Pedi-lhe emprestada a gaguez.
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