Estou siderado
Hoje estou, meu caro, assim a modos que com vontade de o provocar, sei lá eu bem porquê, apetece-me neste ambiente de Debussy em fundo, vá lá, olhe e sinta como uma gota de água menina se diverte nos desenhos pautados..., oh pá, oh pá, quanto também eu me bamboleio ao fazer de gota de água nos meus rabiscos..., sempre gostei da frase do Braque "Amo a regra que corrige a emoção e a emoção que corrige a regra"... Linda (o que já nem é novidade) em casaco cintado e de lenço seda a esconder uma blusa e um colar apaixonado, assim me provocou a única fada que, em dias de chuva, combina o tom dos botins com a cor e as curvas das calças-ganga e do cinto fivela fina (todos em tom azul...)... Olhei-a e disse comigo: fiz asneira pela certa... Abanou o cabelo apanhado em carrapito alto, e não foi de modas, comunicante e divinatória: "este número da "Revista de Occidente" (Janeiro de 2011) - que lhe ofereço - faz-lhe falta, para se informar sobre as relações entre liberdade e cérebro, a fim de podermos conversar um pouco sobre a sua ideia estapafúrdia de que é livre de poder viver sem mim "... Tudo bem, respondi, mas concordará que conversar consigo que, pelos vistos, tem ideias muito claras, é um desafio que aceito de bom grado. Gosto, gosto, gosto, trauteou em rodopios soltos e brilho a escorrer dos olhos grandes, gosto que seja assim..., e sugiro-lhe a leitura pausada deste textinho do Francisco Rubia: ele entende que a liberdade é uma ficção cerebral e garante também que o eu é uma ficção cerebral... E, quando tiver algum tempo, passe os olhos por um dos livros do Francisco, por exemplo, este que lhe sugiro... Sabe que mais? Sabe que o Francisco, por alvitre meu (óbvio) foi revisitar uma citação de um autor da sua Idade Média? Não sabe, mas aí vai a interessante citação: "há uma disputa que continuará até que a humanidade se levante dos mortos entre os partidários da necessidade e os defensores da vontade livre (Yalal ad-Din- Rumi - 1207/1273)"... Tenha paciência e tenha dó, ripostei, eu sei muito bem que está a tentar provocar-me e a tentar dizer-me que eu obedeço a leis determinísticas que me conduzem sempre a si... Nem mais, meu caro, nem mais, confirmou... Nem mais, insistiu, eu sou a sua razão de ser; pense que até o Albert Einstein, depois de uma conversa comigo de criar bicho, foi capaz de afirmar: "um ser humano pode fazer o que quiser, mas não pode querer o que quiser". Mas, interpelei-a, a sua estranha ideia de me provocar obriga-me a perguntar-lhe se existe o livre arbítrio e se eu tenho ou não vontade livre? Homessa, regateou, mas não percebeu que sou eu que determino a sua vontade livre? Meu caro, cresça e apareça, provocar significa chamar a favor de, seja, "vocar-pro"... Estou siderado!
Adenda (mensagem recebida)
Ainda lhe quero dizer mais uma coisinha, a propósito da "sua ideia estapafúrdia de que é livre de poder viver sem mim"... Quero-lhe dizer que tenha em conta a minha lucidez como um raio de sol, mesmo em dias de chuva, sempre à procura de momentos de troca de ser em instantes místicos... Eu sei, eu sei, que está siderado, está vidrado em mim, e eu gosto... Eh pá, eh pá, eh pá, agora sou eu a ficar sem palavras, então não é que gosto da forma como este fala dos sentidos?! Gosto, gosto, gosto..., mas cá para mim, ele roubou-me a minha forma de pensar e, criativamente, adaptou-a a seu gosto e a seu bel-prazer... Não me importo, eu sou assim, livre e esbanjadora em mãos largas-conchas. Que se há-de fazer! Nasci assim, sou assim, vou continuar assim! Ai, Sr. Tolentino, tão cheio de tino! Louco é que ele não é, e é amigo da liberdade, bem vivida, e isso também é certo, mesmo certo... Ai, Sr. Tolentino, tão cheio de tino!
Adenda (nova mensagem recebida)
Adenda (mensagem recebida)
Ainda lhe quero dizer mais uma coisinha, a propósito da "sua ideia estapafúrdia de que é livre de poder viver sem mim"... Quero-lhe dizer que tenha em conta a minha lucidez como um raio de sol, mesmo em dias de chuva, sempre à procura de momentos de troca de ser em instantes místicos... Eu sei, eu sei, que está siderado, está vidrado em mim, e eu gosto... Eh pá, eh pá, eh pá, agora sou eu a ficar sem palavras, então não é que gosto da forma como este fala dos sentidos?! Gosto, gosto, gosto..., mas cá para mim, ele roubou-me a minha forma de pensar e, criativamente, adaptou-a a seu gosto e a seu bel-prazer... Não me importo, eu sou assim, livre e esbanjadora em mãos largas-conchas. Que se há-de fazer! Nasci assim, sou assim, vou continuar assim! Ai, Sr. Tolentino, tão cheio de tino! Louco é que ele não é, e é amigo da liberdade, bem vivida, e isso também é certo, mesmo certo... Ai, Sr. Tolentino, tão cheio de tino!
Adenda (nova mensagem recebida)
Cá estou eu outra vez atrasada... Que manhã manhosa e troca tintas! Tenho desculpa, pois não tenho? O meu caro atarantado
mental e siderado de mim, está bem? Dormiu? Sonhou comigo? Espero que sim… Achei muita graça ao malhão/malhão da ministra
da Justiça (só faltou pôr o José Malhoa a cantar, muito pimba, que alegria, que
alegria!...). Terminou o "estado de citius", voltámos à normalidade, dizem. Talvez não
seja tanto assim, não é essa a percepção dos operadores judiciários. Mas veremos.
Por falar em percepção e em normalidade, recebi um email sobre uma exposição (que vai ser inaugurada em breve) intitulada: "Loucamente". Não sei se
é sobre a mente louca ou se é sobre a mente que mente ou se é sobre a mente que
é louca, sei lá eu... Li o roteiro da exposição e (que medo tenho de não ter
percebido nada do que li!), não resisto a transcrever-lhe duas frases do mesmo:
- "O termo "doença
mental" tem, ao longo dos tempos, acentuado e contribuído também para dualidade
mental/físico, o que não corresponde à realidade. Nem as doenças físicas são só
físicas, nem as mentais são só mentais. Ambas se manifestam numa pessoa que é
simultaneamente corpo e mente. As doenças mentais não são problemas da vida,
são um problema na vida de um doente. As pessoas não adoecem porque querem ou
escolheram ser doentes. Também não melhoram apenas com a vontade e desejo pessoal.
A pessoa com doença mental necessita de tratamento como qualquer outra pessoa
que sofra de diabetes, cancro ou hipertensão arterial. A doença mental deve ser
encarada como algo que funciona mal no nosso cérebro e que
provoca a doença, tal como outras doenças orgânicas ou como resposta a
circunstâncias anormais e, neste caso, constitui uma disfunção
psicológica. (...) A doença mental implica a presença de um conjunto de sinais
ou sintomas clinicamente significativos e que não são uma resposta
comum, adequada, inserida no contexto cultural e social em que vivemos, mas resultado
de uma disfunção ou anomalia psicológica, biológica e social." (sublinhados
meus).
Olha que esta é boa!!! Em que é que
ficamos? Depois falam-me de depressão, fobias, personalidade e tantas, peço
desculpa, tontices juntas que, meu caro, só sei que nada sei e por isso existo!
Também vi uma referência a DSM-IV-TR e a DSM-V (são "catálogos"
de doenças, são catálogos, pois são). O meu caro poeta-pensador-cientista julga
que é versado em coisas da mente, é certo, mas também é um especialista-amador em coisas
do cérebro. Esclareça-me sobre a posição que devo tomar face a frases como as que
lhe indiquei, pois são um pouco complicadas até para uma fada que, graças ao
Deus do Bosque Encantado das Fadas, tem uma linda cabeça e um corpo
aceitável (para a vista, claro...). Acho que a exposição "Loucamente" é
de origem finlandesa, terra (pelo que oiço dizer) de gente fria e pouco dada a
loucuras, de facto. Pergunte-me agora: que
tem isso a ver com o tema da liberdade, querida fada? Sei eu bem..., respondo-lhe… Mas se o cérebro (energia e matéria) funciona
de acordo com as leis universais da física e se a liberdade é uma ficção, então,
isso significa que: as mentes loucas são loucamente saudáveis porque são como
são porque não podem ser de outra forma? Os que violam as regras sociais e jurídicas
são uns pobres doentes que agem dessa maneira porque não podem agir de outra forma?
Não me diga que vão inventar um comprimido para curar a maluquice! Ai, ai, ai meu
caro, ajude-me nestes problemas antes que eu fique louca, tenho os circuitos
neuronais a fazer faísca e já só me ouvem dizer: psis psis psis!
Não me vou alongar mais... Fale-me logo que possa e, por favor, diga-me que me
ama loucamente, gosto muito de ouvir o que sei de fonte limpa!
Adenda (outra nova mensagem)
Falei a sério quando lhe disse que ainda não percebo qual a relevância de fazer uma exposição (dita cientifica) que não incorpore os conhecimentos mais recentes das neurociências (será que incorpora alguns-poucos, ai aquela ideia de desfazer os problemas num "triturador metafórico das preocupações", ui, ui, ui, problemas reciclados...), e que se baseie (parece) em opiniões de psicólogos e psiquiatras (como se fossem a mesma coisa, embora, realmente, não se saiba muito bem (ups, ups, lá se vai a minha franja...) para que servem, face ao conhecimento cientifico actual…, adiante; a exposição vai ser coordenada nos conteúdos científicos por um ou por outro, que ainda não sei quem é). No roteiro da exposição até falam em hipnose e psicoterapias e outras tais “ias”. O título da exposição inclui o termo "mente", pois, a falta de saúde mental é apresentada na forma de "doenças da mente" e não como doenças do cérebro, embora também digam que podem ter origem biológica (a dita até foi premiada, mas confesso que deve ter tido uma medalha de marca roscof, embora atribuída por uma associação internacional de centros de ciência...). Eu não li algures que a mente é o resultado do funcionamento do cérebro? Claro que li! E, ai as discussões acesas que eu tive com o Deepak Chopra sobre este assunto, até o Richard me telefonou para me acalmar... Meu caro, peço-lhe encarecidamente que me alumie a minha mente, coitada, que está a mergulhar na obscuridade cega da minha douta ignorância sobre estas coisas que acontecem no seu malfadado país... Só sei que cada vez sei menos. Help me, please! Como se diz na língua oficial do cientês!... Obrigada, obrigada, obrigada.
Adenda (outra nova mensagem)
Falei a sério quando lhe disse que ainda não percebo qual a relevância de fazer uma exposição (dita cientifica) que não incorpore os conhecimentos mais recentes das neurociências (será que incorpora alguns-poucos, ai aquela ideia de desfazer os problemas num "triturador metafórico das preocupações", ui, ui, ui, problemas reciclados...), e que se baseie (parece) em opiniões de psicólogos e psiquiatras (como se fossem a mesma coisa, embora, realmente, não se saiba muito bem (ups, ups, lá se vai a minha franja...) para que servem, face ao conhecimento cientifico actual…, adiante; a exposição vai ser coordenada nos conteúdos científicos por um ou por outro, que ainda não sei quem é). No roteiro da exposição até falam em hipnose e psicoterapias e outras tais “ias”. O título da exposição inclui o termo "mente", pois, a falta de saúde mental é apresentada na forma de "doenças da mente" e não como doenças do cérebro, embora também digam que podem ter origem biológica (a dita até foi premiada, mas confesso que deve ter tido uma medalha de marca roscof, embora atribuída por uma associação internacional de centros de ciência...). Eu não li algures que a mente é o resultado do funcionamento do cérebro? Claro que li! E, ai as discussões acesas que eu tive com o Deepak Chopra sobre este assunto, até o Richard me telefonou para me acalmar... Meu caro, peço-lhe encarecidamente que me alumie a minha mente, coitada, que está a mergulhar na obscuridade cega da minha douta ignorância sobre estas coisas que acontecem no seu malfadado país... Só sei que cada vez sei menos. Help me, please! Como se diz na língua oficial do cientês!... Obrigada, obrigada, obrigada.
Comentários
Enviar um comentário