Quero acordar de vez, quero ir com ela!

Tinha eu acabado de me voltar na cama - ansiava conhecer o final de um sonho bom antes de acordar - quando senti o deslizar de umas sabrinas soltas e apreciei o suave odor de um perfume conhecido... Abri os olhos, e vi (tão linda!) junto da minha cama com um tabuleiro cheio de torradas, café e sumo de laranja, a única fada que adora surpreender tudo e todos… Olá, bom dia, saudei-a, devo ter sonhado demais. Sim, anuiu ela, mas o seu sonho ainda não terminou; e depois, fitando-me com ar apreensivo-divertido: sou eu, claro que sou eu, eu mesminha, acredite! Sentei-me na cama e peguei no tabuleiro... Esteve toda a noite inquieto, meu caro, transpirou muito, deu voltas e voltas, murmurou de mãos trôpegas a soltar-se, olhe só o seu pijama húmido, que lhe terá acontecido? Encabulado, estendi a mão direita para o sumo de laranja… Ela, fazendo-se desentendida, contemplou-se demoradamente num espelho grande - onde a nudez da sua imagem se desvelava em formas curvilíneas perfeitas (ei, ei, pensei comigo, o meu quarto não tem um espelho destes) - como se no espelho pudesse esconder um sorriso matreiro, e prosseguiu galhofeira: não sei (ou será que sei?) o que lhe aconteceu. Estou baralhado, ripostei, não sei onde estou, estou a sonhar pela certa: este quarto não é o meu quarto (tenho a certeza), o meu quarto não tem um espelho tão grande... Meu caro, ciciou, está acordar no meu escolhido quarto cheio de luz e com água em linha de horizonte, queria melhor final para o seu sonho tão peculiar e tão atarefado? Ah, já me esquecia, pode continuar por aqui durante esta semana, segredou; no entretanto, tenho que ir a Paris por causa do TEAdmiro; aproveite para descansar e pense sempre em mim... Eu estou a acordar no quarto dela e ela vai a Paris?! Quero acordar de vez, quero ir com ela!

Adenda (mensagem recebida)

Pois sim, meu caro, até que não está mal relatado o seu sonho… Só que não há maneira de as suas atrapalhações se desembrulharem; então pensou que acordava no meu quarto e eu ia para Paris. Vida a minha, claro que até a dormir o levaria comigo; adoro ouvi-lo quando me diz: TE-Admiro… Alto aí, reparei agora que em tempos rabisquei um olho (a lápis) muito parecido com olho da menina desenhada; vida a minha, não paro de me surpreender com estas coincidências, que não o são, óbvio...; espero que não conclua que também sou um pouco autista (reveja um pouco da história, faz-lhe falta)… Tenho nestes dias muito trabalho (aqui para nós, já estou farta desta gente, mas tem que ser, tem que ser)... Que bom, tive notícias da minha mãe e sei que ela está bem e que sempre cuida de mim…; vou tomar um cafézinho, cheirar pó de canela e vamos lá a ver se consigo um dia (de sol) bem-sucedido… Eh pá, eh pá, eh pá, aquele final do poeminha “O sol fala”, tem mesmo a ver comigo: importante, quente, brilhante e fonte de vida… Sou assim, assim mesmo, mesmo assim, que se há-de fazer?!