Que cientista de meia tigela ele me saiu, olha olha!

Quanta água, meu caro, quanta água (levadas dela...) correu debaixo das pontes sobre a inqualificável política de desvalorização da investigação científica em Portugal! Estou deveras preocupada e só me apetece ir aos fagotes de alguns maduros... O ar fulo e a chispar de uma fada hipatiana não augura nada de bom, é melhor nada dizer e ouvir com muita atenção, pensei comigo. Lembra-se, continuou ela, lembra-se da conversa que tivemos, naquela linda praia concha (quase tão linda quanto eu...), sobre os bolseiros e sobre o estado da investigação científica em Portugal, lembra-se? Se sim (ou se não, vai dar ao mesmo), leia esta Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores - Pronúncia sobre a Política Científica Nacional... Muito pertinente e especialmente interessante por ter origem num órgão deliberativo regional, não acha? Sim, respondi depois de ler a Resolução e ainda a pensar na expressão "quase tão linda quanto eu" (gaba-te cesto que a vindima está por perto, que vaidosa, Deus meu!)...; claro que é pertinente, clarifiquei, tanto mais que levanta também um problema específico - a importância de investigação científica no mar dos Açores - que merece uma atenção cuidada... Oh, oh, oh, meu caro, invectivou-me, não se esqueça dos vínculos precários dos investigadores e não desvie a atenção para o mar dos Açores... Essa agora, ripostei, só falta dizer-me que não é sensível ao mar e às suas riquezas e às suas potencialidades?! Olha-me este (ouvi-a sussurrar entre dentes brancos e lindos) será que ele não sabe que para mim o mar é um milagre perpétuo: os peixes e os mamíferos que nadam - as rochas e as gaivotas - o movimento sensual ou atrevido das ondas - os navios e os barcos pesca - os recantos dos fundos e a beleza dos abismos... Olha-me este, insistiu, então ele não sabe que para mim cada polegada cúbica de espaço é um milagre, que cada jarda quadrada na superfície da terra está coberta de milagres, que cada hora de de luz e de trevas é outro milagre, que até a delgada curva, requintada e delicada, da lua nova é um milagre, que estas coisas e todas as outras são para mim milagres?!... Nem quero pensar, vociferou, mas que cientista de meia tigela ele me saiu, olha, olha!

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