Ponho uma "poda" em dia?! Esta agora!

Está hoje um vento frio a estragar-me a tarde de passeio mas, imagine só, deu-me para deambular por aqui para saber de si... Seja bem aparecida, não pude deixar de ripostar à intempestiva presença da única fada que (ouvi dizer e não digo quem me disse) aprecia a expressão "tourette voluntário"...; será porque, perguntei-me, quando se anuncia (linda e muito apetecível num vestido verde-limo) o faz sempre com tiques de elegância, rosto felino e voz e pés saltitantes?! Podia responder-lhe à letra, interrompeu-me; podia, mas não o vou fazer porque o seu aspecto macambúzio, macambúzio a atirar para autista, me não agrada nada... Como é que é?! Invectivei-a. Saiba que, soletrou as palavras, saiba que sei reconhecer os meus tiques (e sei tirar partido deles, ui, ui, ui), mas o que agora interessa é o seu tipo de "autismo voluntário" e não o meu "tourette voluntário"...; num dia longínquo, continuou, o meu cérebro será estudado a bem da beleza do multiverso ... Nem lhe respondo (que vaidosa ela me saiu, suspirei), nem estou interessado nas suas provocações e prefiro ficar no meu canto a matutar na vida, desafiei-a. Olha a novidade, disse sorrindo, como poderia responder-me a contento, se o seu comportamento característico é comportamento de um macambúzio autista? Moita carrasco..., calei-me ostensivamente, mas ela não se deu por achada; e, alardeando saber, foi-me dizendo que o cérebro das pessoas com autismo tem excesso de sinapses. Disse mais, disse: "ouvi, há minutos, que já foi publicado o estudo coordenado pelo David Sulzer...; ai quanto eu falei com ele por causa dos seus comportamentos...". Se ela acha que eu sou autista, pensei comigo, óptimo, continuo calado e ela que se explique já que sabe tanto. Isso, isso, murmurou irreverente, faça de conta, como se não soubesse que eu leio os seus pensamentos; mas sempre lhe digo que aquele estudo prova que as crianças e os adolescentes com autismo têm um excesso de sinapses no cérebro, devido à diminuição da eliminação de um processo de eliminação de neurónios, uma espécie de "poda" que ocorre de forma normal no cérebro; e como, insistiu, as sinapses são os pontos em que os neurónios se conectam e se comunicam entre si, um excesso pode ter efeitos profundos no cérebro... Se assim é, decidi interromper, então o que está em causa é a descoberta de um medicamento que restabeleça a "poda" sináptica normal a fim de melhorar os comportamentos característicos do autismo, não lhe parece ser necessário um medicamento?! Bingo, gaguejou...; com esse fim, já foi testado um medicamento em ratos, mas como tem efeitos secundários muito nocivos, não deve ser utilizado em seres humanos; o medicamento em questão, meu caro, é a "rapamicina", um antibiótico produzido a partir de um fungo da ilha de Páscoa ou ilha Rapa Nui (de onde deriva o nome rapamicina)... Mas, no seu estranho caso, descansou-me de olhos cintilantes e perspicazes e em jeito de canção de embalar, não precisa de qualquer medicamento já que o seu autismo é voluntário; decida-se, isso sim, e ponha uma "poda" em dia, e tudo (tudo mesmo) vai melhorar e muito, palavra de fada... Ponho uma "poda" em dia?! Esta agora! 

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