O tempo de um fósforo
Pois saiba que sim, saiba que esta chuva de início de verão é uma mensagem com que o universo me brindou; e com essa mensagem até já elaborei uma teoria... Se eu não perguntei nada, pensei de mim para mim madrugada alta, como é que uma fada moreninha me acorda com uma resposta tão segura? Oh, oh, meu caro, suspirou, claro que sabe da minha leitura atarefada do livro do fósforo e claro que me perguntou, via inconsciente, se a neuroplasticidade é uma propriedade emergente do cérebro... Livro do fósforo? Neuroplasticidade é uma propriedade emergente do cérebro? Fui eu que disse? Tenho que cuidar de mim, não estou nada bem, invectivei-a. Ai o que eu passo consigo, sussurrou, ouça-me com atenção: "há muito tempo que se sabe que a capacidade de adaptação do cérebro, a neuroplasticidade, é uma propriedade emergente no sentido em que as conexões entre neurónios são plásticas e se modificam em função das "provocações" do ambiente...". Tudo bem, interrompi, e o que é isso tem a ver com o livro do fósforo que anda a ler e com a teoria que diz ter construído a partir da chuva de início de verão? Olhei-a extasiado, enquanto ela apanhava o cabelo e o segurava com três ganchos... Bom vamos ao que interessa, disparou, vamos lá à minha nova teoria e depois falamos do livro do fósforo, demore-se nos meus lábios e aí lerá a teoria que eu construí a partir da mensagem (chuva no verão) que o universo me enviou: "o cérebro é um computador líquido que está sempre a mudar, o que não acontece com os computadores que temos em casa; digo líquido porque é como a água de um rio, que nunca é a mesma porque corre... O mesmo acontece com o cérebro, ou seja, influenciadas pelo ambiente as conexões entre neurónios mudam o nosso cérebro permanentemente, e ele é sempre o mesmo não o sendo; e, desta forma, também acontecem mudanças nas propriedades emergentes do cérebro"... Dito isto, meu caro, vou agora (re)ouvir uma conferência do John Searle, está-me cá a parecer que tenho mesmo que a ouvir de novo... Ainda eu pensava em lhe perguntar qual o tempo necessário para que essas mudanças aconteçam nas propriedades emergentes do cérebro, e já ela, em silhueta curvilínea e solta, se distanciava com um enigmático e afectivo adeus: "o tempo de um fósforo".
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