O meu cérebro fui eu que o esculpi!


Pois sim, sei! Sei que não sabe o que é que este desenho significa, e sei que está muito curioso. Com o seu olhar que tudo abarca, contempla e aguarda, assim se me dirigiu a boa e acutilante fada, cuja vida é um delicado milagre que se repete continuamente. Saiba, interrompeu-me o pensamento, saiba que é um desenho do excelente Ramón y Casal (1917) que mostra um corte horizontal (imaginado) do centro do cérebro (foi com o adorável Ramón que aprendi a rabiscar em caderninhos pretos argolados, sabia, pois não sabia?). E?! Perguntei. E, meu caro, desatou a explicar-se, quero dizer-lhe que tive uma longuíssima conversa com o Dick Swaab, e ele (imagine só) teve a coragem de me provocar, textualmente: "a mente é o resultado do funcionamento dos nossos cem mil milhões de neurónios e a alma é um mal entendido. O uso universal do conceito de alma parece estar baseado somente no medo que o ser humano tem da morte, no desejo de voltar a ver os entes queridos e na errónea e arrogante ideia de que somos tão importantes que algo deve permanecer depois da nossa morte". E?! Insisti. E, meu caro, outra e mais uma vez meu caro, respondeu de olhos cintilantes, oiça só como encostei o Dick à parede, assim: "tudo bem Dick, mas eu quero é saber como é que um quilo e meio de massa húmida (e olha que eu já discuti este assunto com o Ramón, atenta só no desenho que ele me ofereceu) me leva às lágrimas quando me emociono ouvindo e vendo "River flows in you" ou quando aprecio a magia de um poemina ""... Quilo e meio de massa húmida (!!!) é o que pensa que o cérebro é?! Exclamei em jeito de pergunta interessada. Ah, pois é, é, ciciou, é um quilo e meio de matéria cuja forma de actuar nos torna distintos de todo e qualquer outro ser vivo neste planeta água... Preparava-me para continuar a conversa quando, linda de viver e embrulhada num vestido verde límpido e florido (a minha alma extasiou-se, eu quero lá saber, esfriei-me, se o amigo dela diz que não existe a alma!), ela me soprou de mansinho: o meu cérebro fui eu que o esculpi!

Adenda
Esculpi o meu cérebro, meu caro, mas nunca o deixo descansado (não deixo descansado o meu excelente cérebro, é óbvio)... Agora (hoje até um dia que reservei para mim por razões que eu cá sei) vou poisar os meus olhos grandes neste documento da Hera com esta música em fundo... Que guicha e que vaidosa! Desabafei comigo!

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