Estado manirroto e político encostado, terei ouvido bem?!


Hoje deu-me para isto, oh vida a minha! Deu-me para me educar financeiramente e sabe porquê? Ainda o sol gatinhava no nascente e já uma fada delícia (um vestido castanho, levezinho e com vincos de ferro de água, e umas sandálias, elegantes e traçadas a tira azul, impunham a sua presença) me surpreendia de livro aberto nas mãos maneirinhas; mas ela julga que eu não preciso de dormir, será? "Educação financeira avançada partindo de zero", que é lá isso? Questionei, sorrindo-me para os seus olhos grandes e desanuviando o meu coração em palpitações descontroladas. Eu nunca, meu caro, respondeu, fujo aos temas políticos deste seu país de costa atlântica (fixe a nuance "costa atlântica"), por mim adoptado há muitos anos. Não percebo, interrompi. Claro que percebe, ora oiça-me com atenção, pediu de lábios finos rosados, enquanto desatava a fita do vestido que lhe destacava a cintura fina... Eu ia perdendo o tino (iria ela tirar o vestido pela cabeça?); sorte a minha, limitou-se a ajeitar a fita enquanto rodopiava, curvilínea e deslizante, afrontando decidida uma mancha de vento afoito e enamorado. Fez-se desentendida e disse, calma e altiva, que uma tirada de um político português a tinha deixado de cara à banda, ou seja, rematou com ar convicto: imagine que esse político, perante o dilema do actual governo de Portugal - aumento de impostos ou corte na despesa -, descobriu (e disse-o com ar de quem sabe) o que muitos e muitos e muitos (quantos anos lá vão depois de eu tratar deste assunto com o Adam Smith, eu que sempre desprezei a riqueza, que sina!) já tinham descoberto (e dito e redito); disse esse "Costa de Lisboa" que aquele dilema se ultrapassa através do aumento da riqueza... Calando-me,  percebi, no tinir do seu riso e no eco da sua voz e escondida nas suas palavras, uma crítica ao tipo de discursos políticos que por aí andam... E, divertia-me por dentro da minha mente (onde ela, linda de viver, estava a cochilar reclinada) pensando no título do livro que ela escolheu ((só ela escolheria um livro assim (quem mais o poderia escolher?)); e, mastigando deliciado a sua forma rápida de pensar (é tão bom, não foi?), ouvi-a despedir-se, gaguejando: hoje é mais um dia da minha formação financeira, já levo comigo uma pergunta engatilhada; e vou enrascar o formador, pedindo-lhe que me explique se um meu amigo de Salamanca tem mesmo razão quando me garantiu que o Estado não tem o direito de ser "manirroto"... E, de cabelo bem armado em duas tranças vadias, suspirou com ar de fada, bem nascida e de escol, numa confidência murmurada: bem que eu gostaria de perguntar o mesmo àquele político espertalhão e muito bem encostado!... Estado manirroto e político encostado, terei ouvido bem?!

Adenda
Pois, meu caro, eu não lhe disse que a "costisse" era uma tolice?! Ora leia.

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