Seja o que Deus Ressuscitado quiser
Ainda
não me decidi, meu caro... Então não é que não me sai da cabeça a ideia de ir passar dois dias em Paris, para me divertir e para visitar uma exposição no museu do "Louvre"?! Então não é que me apetece passar três dias na melhor praia do mundo?! E logo agora que me
sopram, desalmadamente, que não prescindem da minha presença em La Alberca? Mas
porquê, porquê eu?! Sempre me convidam a mim quando não sabem o que fazer, oh vida a minha!!! Sabia, imagine só, que ontem tive que
fazer um discurso (que ficou perfeitinho, diga-se em abono da verdade) para uns maduros debitarem nas comemorações da data de uma revolução política e social?!... Fim de sábado de aleluia e uma fada atarefada, de formas curvilíneas e de prodígios escondidos a atormentar-se em solilóquios
soltos, pensei, é um momento inédito e único,
vou tentar saber o que está a acontecer… Se, invectivei-a,
me disser porque é que não prescindem da sua presença em La Alberca (o que é de tão importante aí poderá acontecer, mastiguei um pensamento furtivo...), talvez eu entenda o seu desalento. Desalento uma ova, meu caro, sibilou, não gosto, isso sim, de utilizar, só porque me apetece, o meu dom da ubiquidade (incomoda-me, mas que hei-de eu fazer, se sou assim de nascença e feitio?!); e saiba (ai a sua inveja e os seus ciúmes atiçados!) que não prescindem de mim porque eu: sou futuro vivo e límpido, espero as respostas dos oráculos, honro os deuses, saúdo o sol, garimpo ouro em aluvião e aceito os Evangelhos; tudo isto eu sou ou sinto ou estou... Se assim pensa ou sente ou está, nada melhor que decidir-se, arrisquei dizer com o meu coração a dilatar-se (descompassadamente) para ela, porque o saber e a beleza e a finura lhe assentavam muito bem. Adoro, adoro, adoro, sussurrou, que seja assim e que se dilate por mim e para mim...; acontece, murmurou, que também prefiro estar inteirinha e lançar âncora apenas num lugar; e verdade, verdadinha, estou com vontade de deixar de lado o museu e a praia, e participar num encontro para debater o futuro da neurociência, em La Alberca e no ambiente idílico do parque natural de "Las Batuecas-Sierra de Francia" ((imagine que ainda me recordo bem das longas conversas (um dia destes conto-lhe o episódio do ovo da carriça, vai adorar) com o Luís de Buñuel, preparando o filme "Las Hurdes"; foi há tempo já, em 1933, pois não foi?!))... Ah, ajeitou a franja egípcia, se quiser ter uma pequena ideia do que me espera para pensar, para descansar e para preparar noites estreladas em luxuriosas alegrias de mil e uma noites, demore-se aqui durante uns minutos... Ia-me estatelando ao comprido, quando, demorado a apreciar a "Abadia dos Templários", a ouvi dizer, galhofeira e incisiva: decido-me por La Alberca e vou deliciar-me a explicar (e a contar segredos), numa conferência de uma hora e trinta minutos, a sua necessidade imperiosa de neuroterapia; estou convencida que os seus neurónios-espelho precisam de reciclagem urgente, estão assim a modos que neurónios-azelha. Só agora percebi, dei comigo a matutar, que esta conversa enrolada, foi a forma expedita que ela encontrou, para preparar uma conferência sobre neuroterapia; escolheu-me para cobaia (os meus neurónios-espelho estão assim a modos que neurónios-azelha?!)..., e eu mordi o isco, que raiva!!!... Amo-a, mas se a apanho a jeito, desfaço-a sem dó nem piedade, apostei comigo em dobrado e determinado a ganhar... Seja o que Deus Ressuscitado quiser.
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