Reduzi-me à minha insignificância, convenceu-me e gosto da senha

Já deixei em água, no meu terraço de amores perfeitos, um molho de cravos que surripiei no jantar da festa em Lisboa e de que lhe falei, pois não falei?! Por volta das quatro horas e trinta minutos da madrugada, assim se fez anunciar (felina quanto baste) a única fada que, perante qualquer facto ou acontecimento, pega em dados incompletos, usa o contexto e outras pistas para completar o facto ou o acontecimento, faz palpites lógicos e apresenta propostas que umas vezes são precisas, outras não tanto, mas ela é sempre convincente. Conhecendo-a de gingeira (é verdade que já estava acordado à espera dela; sim eu sabia daquele jantar e até sonhei com um papa formigas eficiente e dedicado, tal era o formigueiro de ciúmes que me atormentava...), perguntei-lhe se a estória dos cravos não trazia água no bico. Oh meu adorado, suspirou, que intuição a sua (a minha manta de lã merina já tinha dona outra vez)! Surripiei os cravos porque os cravos são sinal de revolução e eu, durante o jantar, pensei na necessidade de fazer uma revolução na Grande Lisboa... Nem tugi nem mugi, quedo e mudo. Pensei, meu caro, o seguinte, continuou, pensei comparar o incomparável e fazer uma revolução, com rosas e luzes, a partir duma senha: as crianças são o presente do futuro. A sua perícia no manejo das palavras e as suas mãos vadias embotavam-me o inconsciente, mas ainda consegui pedir-lhe que fosse directa, eu ainda precisava de dormir mais uma horita. Ora essa, invectivou-me, ora essa sua atoleimada vontade dormir, são horas de estar comigo, veja se tem juízo, eu gosto que me acaricie, que pelo menos me devolva em dobrado as minhas carícias... Mas sempre lhe digo que a revolução na Área Metropolitana de Lisboa é dar a devida atenção às crianças mais novas; e um bom exemplo do que deve ser feito, é o que se está fazendo na Província de Alberta no Canadá que tem, mais ou menos, a população da Área Metropolitana de Lisboa. Olálá, interrompi, cheira-me a esturro, então não fui eu que lhe falei em Alberta e no projecto que está a ser desenvolvido? Recordo-me até, insisti, de ter falado consigo sobre estes resultados referidos à cidade de Edmonton, verdade? A sua mão direita, aberta-concha em jeito perícia afectiva, afagou-me o rosto afogueado, ao de levezinho vertical, e respondeu: sim falou, mas quem cruzou os dados fui eu; e ontem, no jantar, acendeu-se-me uma luz no cérebro, decidi fazer a revolução, aticei uma rosinha com um cravo, e até já escolhi a líder da revolução.... Reduzi-me à minha insignificância, convenceu-me e gosto da senha.

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