Portugal amolecido é enfado de fada, é de certeza!

Nem sei bem como lhe dizer, meu caro... Passei uns dias a recuperar muito trabalho atrasado e o meu grande medo (imagine só) era o do inconseguimento, mas tinha uma certeza, lá isso tinha: tinha a certeza de que o meu não conseguimento era problema deles, de uns maduros que pouco fazem e que muito falam. Com ar cansado mas a provocar-me (em metáfora de gozo intelectual como é seu timbre), assim se me dirigiu, véspera de fim-de-semana, a única fada que dia sim dia sim veste verde, ontem verde seco íman. Azar o dela, descobri o sentido escondido nas suas palavras... Então não é que eu vinha acompanhando, pelos jornais, esta polémica triste e sem sentido e que hostiliza heróis de verdade? Respondi-lhe, afoito: essa sua forma de brincar com os actos falhados dos outros, já não é moda, é feitio; mas que é uma forma muito bem conseguida, lá isso é! Gosto, gosto, gosto, desfranjou-se em locuções gaguejadas, gosto que seja inteligente, que perceba as minhas metáforas, e também gosto de me sentir conseguida e bem conseguida e muito bem conseguida, (nessas alturas, no meu rosto perfeito a pele alisa-se, alisa-se e cora feliz); olhe e oiça, agora, como alguém (que anda de relações cortadas com as palavras) teoriza o inconseguimento… Ainda eu olhava e já (re)ouvia, surpreendido (ai "o nível social frustacional derivado da crise", ai "a Europa a sentir-se pouco conseguida e a não projectar para o mundo o seu soft power sagrado"!), e já ela, ladina e lampeira, me soprava que eu tinha razão quando falei em acto falhado como sinónimo do inconseguimento ((aquela assunção (assunção, qiue desajuste!) é de uma empáfia sem norte, que vida a minha!))... Mas eu não disse isso, disparei, sem tento na língua. Ai disse, disse, martelou ela as as sílabas do disse, uma por uma, duas vezes. Quis eu dizer, isso sim, interrompi-a, que o acto falhado era o resultado da falta de bom senso; e, nesta altura, insisti, até penso que Descartes não teve razão: o bom senso não está de facto bem distribuído, e o emaranhado de palavras (que ouvi) é prova disso. Meu caro, ciciou-me, para fim de conversa deixe que lhe diga que não é só uma questão de falta de bom senso, é também uma questão de falta de bom gosto...; adiante (que gargalhada solta e gaguejada nela se embrulhou!), se Portugal está amolecido como é que a Europa pode estar conseguida, bem conseguida, muito bem conseguida?!... Portugal amolecido é enfado de fada, é de certeza!

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