Maçã de Adão também é nome de perfume
Gosto
da ideia, meu caro… Gosto mesmo, gosto mesmo muito. Assim me interpelou, de mãos trôpegas a falar,
a única fada que sempre surpreende em formas curvilíneas sugestivas. Gosto muito da ideia de um striptease de coração, e sabe ou imagina porquê? Claro que não sei,
respondi de imediato, e até estou deveras surpreendido consigo. Mas não esteja, não
esteja… Imagine só que eu combinei duas constatações interessantes e zás:
adorei, adorei, adorei a expressão striptease do coração. Duas constatações, perguntei, quais? Uma que lhe vai
agradar, assegurou, e uma outra que o vai surpreender…, mas o melhor ficará para o final. A primeira constatação é um dos desafios
principais da neurociência, ou seja, a tentativa de entender se um cérebro
adulto é o resultado dos genes que o organizam ou se é o resultado do que esse
cérebro viveu e desde que começou a funcionar: num extremo, os genes determinariam tudo e as nossas condutas e atitudes teriam pouco
a ver com o que entendemos por vontade e por liberdade; no outro extremo, o
nosso comportamento é o resultado do que o ambiente e a experiência alteraram e esculpiram no cérebro, bem como o que o cérebro fez ao longo e ao largo da vida. Sim, eu sei, interrompi, sei que a investigação científica, mais tarde ou mais cedo, nos levará a conhecer,
cada vez com mais precisão, em que lugar entre esses extremos está a realidade… E qual é a sua outra constatação? Suponho que ela nem terá ouvido a minha pergunta…
A segunda constatação é mui curiosa (a sua vozinha, melíflua, trilada e doce, deixava entender surpresa enriquecida): então não é que na recuperação da charola do convento de Cristo em
Tomar se descobriu que (tramo 13) Adão e Eva na pintura original estavam nus, nuzinhos ((alguém os vestiu (pintando por cima), posteriormente e em data incerta...)). É
demais, demasiado para a minha capacidade, assumi calaceiro,
é-me impossível descortinar a relação entre essas suas duas constatações (os seus múltiplos saberes desnorteiam-me, deixe que lhe diga, atrevi-me a dizer) e o seu tri-adorar entusiasmado da ideia de haver "um striptease do coração". Ela, misteriosa, desfranjou-se,
apanhou o cabelo, mordeu o lábio e disse, baixinho: um striptease de coração é saltar do segundo para primeiro extremo da
constituição do cérebro e, tirando pela cabeça este meu vestido azul mar, desnudar-me inteirinha. Eu, a necessitar de um copo de água com açucar, ia
tendo um ataque cardíaco, porque se ela janota o disse, melhor exibiu, contorcionista e coradinha, um cuidado, pausado, harmonioso e verdadeiro (e com um sentido de estética que me agradou) striptease de coração… Os extremos do meu cérebro tocaram-se e senti-me num caleidoscópio de sonho e realidade, e a exclamar sem peias: tão natural, tão paraíso, tão Eva e que perfume tão suave! Não se deu por achada, e descontraída, sussurrou em sorrisos contidos, olhos palradores e mãos vadias: inebrie-se e embebede-se de mim, eu sou mesmo assim e o nome do meu perfume é "Maçã de Adão".
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