Não paro de querer ser feliz
Este, meu caro, é um quadro da Paula Rego - Crianças e suas histórias - ... O que eu passei, em 1989, para convencer a Paula a escrever uma explicação para um quadro tão estranho, pois sabe, não sabe (claro que sabe) que eu me preocupo com o papel da imaginação e da criatividade no desenvolvimento das crianças (já ouviu falar no "Universo Opus Tutti" que eu amadrinho de coração...)! Com esta exclamação tão sentida, se aproximou de mim a única fada que rejeita ser virtual... E a Paula Rego escreveu essa explicação que lhe pediu? Perguntei, enquanto a olhava de soslaio (vestido lindo e novo, de tecido seda verde-musgo, não se aguenta...). Escreveu é como quem diz, sussurrou-me, eu dei-lhe o mote, falei-lhe da minha experiência de fada-menina, e só em 1996 é que ela rascunhou (é pena, mas ela é um bocadinho grande "zururu" (zururu é uma palavra privativa de fada, nunca esqueça): "É muito injusto ser criança. É a coisa mais injusta que existe. É-se pequenino, está-se nas mãos de outras pessoas (...). As crianças não têm privacidade, estão à mercê dos adultos e para se vingarem aprendem a mentir. A subversão é a única maneira que têm de poder vencer. As mentiras são coisas que lhes salvam as vidas. Se não fossem as mentiras estavam tramadas". É difícil de acreditar, ouvi-me dizer, que uma fada-menina utilizasse a mentira como forma de subverter a realidade para aprender a vencer. Mentira não, suspirou de olhos bogalhados de pérola e risinho solto: forma criativa de escutar (e ver e tocar) a vida, sim; forma inteligente de aceder e brincar com todas as dádivas do universo, certamente. Sabe..., ciciou em jeito de pergunta-resposta, ainda hoje tenho preguiça de estar quieta, não paro (nunca vou parar, acredite porque é verdade) de querer ser feliz.
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