Que linda!

Foi assim… Lembrei-me, meu caro, de recorrer a Karmelo Iribarren porque as dúvidas me assaltam todos os dias. Sabe que ele me disse que “a vida anda, mas nem sempre…, por vezes a vida não anda, por vezes só passam os dias”… Assim falando, se deixou cair na minha cadeira “queen anne", de olhos bogalhados à procura dos meus, a minha fada única. Eu olhava para ela com a perspicácia dum gato de olhos azuis que não pode falar…; ai o seu vestido verde de seda florida, tão à minha mão de colher marigadas, ai em que apuros me sinto, pensei aflito! Riu-se (tanto ela deu, guicha aos molhos, pela minha aflição, que lê os meus pensamentos, só pode ser) a bandeiras despregadas, e resolveu brincar comigo do jeito de falar dos habitantes de uma das suas cidades preferidas, Viana (do Castelo) no Minho: bou-lhe mostrar, meu aflitinho, como é que desaperto o meu vestido berde musgo de seda florida (hoje não é berde limo). Passei-me da cabeça e pedi-lhe: não faça isso, eu não respondo por mim nem pela minha bida (eu até já falava como ela) e já estou todo a furber a pinsar no que vai acontecer... Como gosto muito dela, arrefeci-me a dizer: vou escrever-lhe um poema logo que esta desorientação me passe! Então não é que ao ver a minha atrapalhação (eu já me trocava todo), se saiu com um destemido comentário: numa tarde comprida como linguiça há que ser balente, furber e non pinsar muito… Balente, furber e non pinsar muito, ai é?! Vou-me direitinho às marigadas, e é já, decidi-me afoito e desatrapalhado… O sorriso dela (franco, aberto e desconcertante) nada nem ninguém conseguiria travar, aposto singelo contra dobrado... A vida já estava a andar de novo, e ela dizia ainda que tinha uma cesta cheia de coisas, torta de geleia e e outra comida. Que linda!

Adenda
Não me sai da cabeça, matutei, aquele seu lindo sorriso: cantos da boca erguidos, pálpebras apertadas, rugas em torno do canto dos olhos e as partes superiores das maças do rosto ligeiramente elevadas. Que sensação! Bingo, descobri: um sorriso verdadeiro como o dela (com aquelas características especiais), e que tem o dom de iluminar os meus dias, tem um nome, é O Sorriso de Duchenne... Óbvio, meu caro (ouvi dizer uma voz inconfundível), no catálogo de 19 sorrisos diferentes do Paul Ekman, o meu sorriso era o único genuíno, e foi ao meu sorriso que ele chamou "O sorriso de Duchenne"...; mas estou admirada consigo por ter identificado as características únicas do meu sorriso, que espertinho... A propósito, sabia que o Paul se perdeu de amores por mim?! Cuida-te, adverti-me, um dia destes o teu coração não aguenta...

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