Murros de fada

Falar e agir ao sabor dos acontecimentos (e só quando dá jeito), é sempre um risco porque pode haver alguém que nos desmascara a qualquer momento: este é um lema que levo comigo, sempre que viajo por esse mundo fora. Em dia de Equinócio da Primavera, dia do equilíbrio e dia internacional da felicidade, assim se me dirigiu, de olhos bogalhados e piscos, a única fada que não descansa. O que é que eu fiz desta vez? Tive uma necessidade imperiosa de lhe perguntar. Desta vez não é consigo que estou incomodada, descansou-me. Desta vez, garanto-lhe, estou “vai que não vai” a passar-me dos carretos (este tipo de expressões é sinal de borrasca feia, pensei); então não é que, soletrou as palavras, uns quantos (setenta e alguns…), neste mês de Março, desataram a manifestar-se no papel, pugnando pela reestruturação da dívida portuguesa (um dia destes, sibilou, levo o manifesto ao banco para reestruturar a dívida que contraí a bem de Portugal, pelo sim, pelo não!)… De cara à banda, interrompi-a sem cerimónia, para lhe dizer que as opiniões são o que dá sabor à vida; e para lhe perguntar se também o assunto da dívida portuguesa lhe dizia respeito e porquê. Ora essa, invectivou-me de língua afiada, claro que as opiniões dão sabor à vida, mas eu não sou residente neste nobre país em que escolhi viver por sua causa?! Então eu não transferi grande parte das minhas economias para alguns bancos portugueses, então eu não me endividei para desenvolver projectos de inovação e exportação, enquanto outros maduros (que por aí debitam opiniões e assinam manifestos) nunca investiram nada e até já abriram contas em bancos estrangeiros, à cautela?! Meti a viola no saco e questionei a medo: será que, se a dívida portuguesa for reestruturada, os depositantes em bancos portugueses podem vir a ser prejudicados nas suas poupanças? Linda-afogueada (é mesmo tão bonita!) sentou-se, ajeitou a franja e disse-me baixinho: meu caro, enquanto pinto as minhas unhas de carmim, ouça com atenção o que este (que também assinou o dito manifesto) perorou na televisão em 03/10/2013… Assim fiz, ouvi com atenção e percebi que que sim, que se houver reestruturação ou perdão da dívida portuguesa, serão, em última instância, os depositantes dos bancos a sofrer as consequências… Perguntei-lhe, com dúvidas, se seria mesmo assim. Não se fez rogada e disparou à queima-roupa: se é bem assim ou não é assim, ainda vou ver e estudar…; mas não é que fico com a ideia de que é incompatível pensar assim e assinar o memorando?! A verdade, verdadinha, continuou desfranjada e de mãos soltas empunhadas em câmara lenta tremida (só lhe faltavam as luvas de boxe), é que vou ponderar retirar o meu dinheiro (todo o meu dinheiro, meu caro) dos bancos portugueses, ou não seja eu um caso único de enteléquias criativas (enteléquias criativas, foi o que ela disse?!). E, de beleza curvilínea de seda em verde limo florida, voltou a afirmar que falar e agir ao sabor dos acontecimentos, é sempre um risco… Despediu-se, felina e decidida, com um desabafo solto e para ser ouvido: aquele maduro (que parece falar e agir ao sabor dos acontecimentos, na televisão e no papel) passou-me a perna de certeza, já guardou o dinheiro dele na banca estrangeira, que filho da mãe, vai ver como as minhas mãos lhe doem! 

Adenda
Meu caro, concordo mais, no essencial, com o economês (olhe que nem uma vez (valha-me Deus) fala em pessoas reais que vivem, que sentem, que se indignam...) com este que agora se arma em pitonisa ronaldeira... Mas afinal por onde é que ele andou nos últimos quinze anos, quando a economia portuguesa destilava desvarios em catadupa, e com os governos (vários) a esbanjar dinheiro a rodos e a torto e a direito (mais a torto que a direito...)?! Não viu nada, não deu por nada?!... Andou a treinar com pesos nos pés?! Oxalá!

Adenda (24-3-2014)
Olhe-me este lerdinho a pôr-se a jeito: coitadinhos dos bancos e dos banqueiros e dos políticos! Estou agora a recordar-me, meu caro, do abominável homem das neves...

Adenda (25-03-2014)
Alvíssaras! Este acordou agora!

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