Darwin sobre Deus na sua "Autobiografia"
"Outra
fonte de convicção quanto à existência de Deus, ligada com a razão e não com os
sentimentos, influencia-me como tendo muito mais peso. É uma questão da extrema
dificuldade, ou melhor, impossibilidade, de conceber este imenso e maravilhoso
universo, incluindo o homem com a sua capacidade de olhar para o passado distante
e para o futuro longínquo, como sendo o resultado do acaso cego ou da
necessidade. Quando começo a reflectir assim, sinto-me obrigado a recorrer a
uma Causa Inicial que possua uma mente inteligente, até certo ponto análoga à
mente do homem; e mereço ser chamado Teísta. Esta
conclusão estava fortemente implantada na minha mente, tanto quanto me posso
recordar, pela altura em que escrevi "A Origem das Espécies"; e foi
depois disso que se tornou gradualmente mais fraca, com muitas flutuações. Mas então
surge a dúvida - será que a mente do homem, que se desenvolveu, como creio sem
reservas, a partir de uma mente tão primitiva como aquela que o animal mais
primitivo possui, é de confiança relativamente à sua capacidade de inferir
conclusões tão grandiosas? Será que não são simplesmente o resultado da ligação
entre causa e efeito que nos impressiona como sendo necessária, mas provavelmente
depende apenas da experiência herdada? Nem devemos deixar de considerar a
probabilidade de que a constante inculcação da crença em Deus na mente das
crianças possa produzir um efeito tão intenso, e talvez herdável, nos seus cérebros
ainda não completamente desenvolvidos, que depois é tão difícil para elas
abandonarem a sua crença como é para um macaco abandonar o seu medo intenso e
instintivo de cobras. Não posso pretender lançar luz sobre problemas tão abstrusos.
O mistério do início de todas as coisas é insolúvel para nós; e por isso contento-me
em permanecer Agnóstico"
Charles Darwin, "Autobiografia", Relógio d' Água,
Lisboa, 2004, tradução, introdução e notas de Teresa Avelar, a partir do original de 1887.
Nota de rodapé (a propósito)
Li esta entrevista: tenho mesmo que testemunhar o "Peso do Paraíso"..., de Rui Chafes.
Nota de rodapé (a propósito)
Li esta entrevista: tenho mesmo que testemunhar o "Peso do Paraíso"..., de Rui Chafes.
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