O eco da minha admiração multiplicou-lhe o riso

Decidi revelar-lhe um segredo, meu caro... Até aproximei as orelhas do nariz (sair de perto do perfume dela é que não) quando ouvi a única fada que conheceu (e que conhece) os dinossauros, dizer que me ia revelar um segredo. Ela (eu creio que ainda estava indecisa) olhou-me fixamente e pediu-me para visitar o museu do seu amigo Giacomo Manzù... Tudo bem, já cá estou, respondi-lhe. Pois bem, adocicou as palavras, enquanto visita o museu (demore-se na sala dois, ouvindo a música de fundo), sempre lhe digo que eu fui a verdadeira musa inspiradora do Giacomo, antes de ele se virar para os bispos. Recordo-me, continuou, que tivemos uma conversa deliciosa por causa do "Busto di Donna" (ai aquela Inge! Sabe o que se passou? Se não sabe, também não interessa agora nada). E, suspirou, eu (os seus olhos grandes estavam tão pequeninos!!!) percebi, nessa conversa deliciosa, que também tenho defeitos e não só virtudes. Mas o "Busto di Donna" é uma obra fantástica (as curvas, o pescoço alto, o cabelo apanhado, só me apetece desapertar o laço e explorar dois tesouros escondidos); e creio que tem muito a ver consigo..., apenas o seu rosto impenetrável é que me incomoda, interrompi-a. Pois tem a ver comigo, claro que tem a ver comigo..., e o meu rosto mostra à saciedade (aí tem o meu segredo) o interior dos meus defeitos. Mostra o interior dos seus defeitos?! Quais defeitos? Exclamei. Não se fez rogada e disse que aquela obra de Manzù mostra que nos seus defeitos mora uma tremenda impaciência perante: a mediocridade, a atrofia da imaginação, a falta de humanidade de atitudes e comportamentos a que assiste e tudo o que perturba a harmonia e a beleza... No interior dos defeitos ou no interior das virtudes, esta agora?! Perguntei-me enquanto sussurrava na pele-seda-de-andorinha do seu lindo e torneado ouvido esquerdo: tenho por si uma admiração ilimitada... O eco da minha admiração multiplicou-lhe o riso.