Uma minha outra avó
Descobri, e estou muito feliz por ter acontecido..., o meu nome índio foi-me alcunhado pela minha avó zuñi, soprou-me baixinho, a única fada que toma
café com os pés virados para a lua. Recordo-me até, insistiu, do episódio curioso (era eu ainda uma menininha) que terá levado a minha avó zuñi a dar-me o nome: um pica-pau solitário estava a picar num tronco e o ritmo percutido chegava aos meus ouvidos sem eco, absorvido pelos musgos...; como não conseguia ouvir, os meus olhos incharam aflitos. E ainda me recordo (o seu sorriso dançava enquanto ela falava) de um outro episódio em que os meus olhos incharam: vi três focas meninas, num dia de tempestade, a estenderem os pescoços para as vagas invisíveis, bebendo grandes goles de tumulto. Sempre a mesma, desabafei…, o que pretende, é que eu diga que o seu nome índio é “Olhos
Grandes Bogalhados” para que todos saibam que os seus olhos são lindos e bogalhados de pérola. Por
acaso até não, respondeu de imediato.
Até não?! A minha surpresa era total. Até não, meu caro adivinhador, interrompeu-me o meu pensamento, porque o que pretendo é apenas falar
um pouquinho consigo, hoje que uma minha outra avó decidiu partir para a nossa
estrela de origem... Quantas horas, suspirou, passámos (aninhas, anocas, aninhadas e envolvidas pelo nevoeiro londrino), para delinear e definir o perfil da protagonista do seu belíssimo livro de
referência "The Golden Notebook"... Sempre imaginei que lhe valeria um Prémio Nobel de Literatura em 2007..., e digo-lhe, a talhe de foice, que sempre soube que esta outra minha avó ganharia um Prémio Nobel da Literatura porque eu estava (inteirinha, perspicaz, linda, doce e sábia) dentro da protagonista... Que fada guicha e convencida, não pude deixar de exclamar!
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