Serão disléxicos?!

Fiquei (nem sei bem como lhe hei-de dizer) desconfiada, quando a sua citação do Immanuel Kant sobre "uma vontade boa" me cheirou a esturro de panela de ferro, soprou-me, convencida e de nariz fino-torcido, a única fada intemporal. Essa agora! Ripostei, com ar de quem pergunta. Adiante, suspirou enquanto trauteava: eu sou boa, não preciso de teorizar à volta de uma vontade boa..., o meu corpo é uma entidade criativa e é a minha verdadeira presença neste mundo; é este corpo que me dá a capacidade de entrar em relação com outras presenças, de ver, de ouvir, de tocar e de ser tocada. Sabe que mais? Nestas alturas, numa espécie de tempo fora do tempo (e irritada quanto baste), regresso ao sabor de uma língua que falei há muitos anos, muitos anos ((a talhe de foice, imagine que até brinco (só com quem gosto do peito), dizendo que "laburra" cujo significado é abreviada, quer dizer beleza corada ((burrus em latim significa vermelho, ponha lá a sua ignorância de molho), beleza enrubescida da cor da minha blusa de chamariz e linda, lembra-se da minha blusa?))... Essa sua irritação com as opiniões de Kant, provoquei, traz água no bico; anda por aí algum amor escondido ou abafado. Fez-se desentendida... Sempre me irritou, confidenciou, aquela mania da pontualidade racional do Immanuel Kant (Immnuel significa "Deus connosco"; se ele é Deus, vou ali e já volto que se faz tarde)); eu e ele trocámos impressões várias vezes e a conversa terminava sempre da mesma forma..., agora já sei que sou alérgica ao racional: ele é só razão e eu sou só emoção! As línguas, ao que parece, permitem discursos improvisados mas carregam sentidos e sabores que a magia dos mundos sensíveis lhes emprestou, senti-me a dizer-lhe, tão preocupado estava com o seu ar agitado. Verdade, verdadinha, disse e sorriu... Para me acalmar da alergia, continuou, e para invocar os significados profundos dessa língua minha amada, desato a contar pelos meus dedos de colher flores: bat, bi, hiru, lau, bost, sei, zaspi, zortzi, bederatzi, hamar, hamaika, hamabi, hamahiru.... Os zenbakiak sempre me inspiraram! Quando chego a dez, dou volta às minhas mãos náufragas e começo, com a felicidade a entornar-se, a recitar até treze ((podia ir até dezassete (o prefixo é o mesmo) mas treze é o meu número preferido))... Imagine só que estes dois entendidos sábios cheios de ratice, ainda não descortinaram a origem de bis; será tão difícil perceber que bis é um dois plural, alegre e com palmas (e com som e com ritmo)? Recorda-se do seu ar de "mocho-orelhudo conta-me coisas" quando sussurrei, em seda de andorinha, ao seu ouvido-mouco, quero um bis?... Como é que é?! Mocho-orelhudo conta-me coisas, eu?! Arrepiou-se-me a pele a suar estopinhas. No meu íntimo astuto, segredou-me já feliz e numa descompassada e destravada gargalhada: estou convencida que aqueles dois entendidos sábios, confundiram eureka com euskera... Serão disléxicos?!

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