Que bom poder dormir mais uma hora!
Agora é fim de tarde de mais um dia de trabalho (para variar, imagine só a minha vida de fada!) …
Ai de mim! – Queixou-se-me, com os
lindos pés a descansar em água com sal, a única fada que usa óculos (de ver ao perto) com aros de
massa preta. O meu olhar, fascinado, desceu-a lentamente para seguir os trejeitos dos seus delicados pés em carícias mútuas (alimentadas pelo som de uma harpa egípcia com muitas cordas) num pequenino lago de água …; e eu, numa confidência murmurada, disse-lhe que os pés
dela eram "iguaiszinhos" aos de Hipátia, uma mulher linda e sábia. Tímida e
feminina (com uma mão menina náufraga a vagabundear-me), sussurrou: deixe-se de tagarelices que eu hoje estou muito cansada…; mas reconheço
que gosto que me compare com essa mulher extraordinária porque ambas desafiamos
(e somos saúde) para o mundo do nosso tempo..., dando dando-nos. Um resplendor
divino emanava dela, da cabeça aos pés, quando me garantia que uma efusiva trepadeira de
campainhas no terraço da sua casa lhe dava mais prazer que a metafísica dos
livros. O desdém da metafísica dos livros tem a ver comigo? - Questionei. Não é desdém, meu caro, é tão só uma constatação imperativa, respondeu sorrindo. As campainhas da trepadeira alertaram-me que amanhã muda a hora (que expressão engraçada, não é?) e que vamos ter mais uma hora para dormir. Qual Hipátia no início do século XXI, continuou, ensino-lhe muitas coisas que tem ainda de aprender, verdade? Percebi, exclamei surpreendido comigo. Percebeu?! Que surpresa a minha! Ela a perguntar e eu a vaguear (e a vaguear vagueando) por ela... Vamos deixar de lado a metafísica dos livros, senti-me a sugerir-lhe (em jeito de pedido) com um afrontamento insólito (ou com um afoitamento atrevido, já nem sei) para que, depois de ajustados à alegria da vida (dê o tempo as concertadas voltas que tiver que dar), possamos em uníssono suspirar com os elogios a descoberto: que bom poder dormir mais uma hora!
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