Orçamento do Estado, Álvaro de Campos e a Ode Marítima

Todo este Orçamento do Estado para 2014 se orienta por uma única ideia (o que, convenhamos, é o resultado de não se ter apostado, desde o início da gestão do "programa de resgate financeiro", no princípio da dinamização económica): uma estratégia de consolidação orçamental. Pois sim, esta é a ideia-drama. Ou seja, uma consolidação orçamental (a dívida externa de Portugal continua altíssima e o défice não vê melhores dias) tendo de ser feita à custa de tudo e à custa de todos, gera uma obsessão doentia por cortes e mais cortes e mais cortes e mais cortes; e eles aí estão… Não foi o nosso genial Fernando Pessoa (na sua pele de Álvaro de Campos) que, a certo passo da Ode Marítima, se referia a um “...como o conteúdo confuso de uma gaveta despejada no chão”? Há reconhecer que o documento escrito (desenhado) tem coerência interna, não deixando, por isso, de ser um exercício de evidente fingimento; e a apresentação pública (plural) deste Orçamento do Estado para 2014 foi um “...como o conteúdo confuso de uma gaveta despejada no chão”…, lá isso foi! Gerou-se mais desconfiança e, a par a passo, a indignação e a revolta fazem o seu caminho... O futuro próximo de Portugal joga-se no ano de 2014 e não no ano de 2015 ((neste ano de 2015, ano de eleições legislativas (o orçamento para esse ano será um orçamento para eleições, vai uma aposta?), jogar-se-à o futuro dos partidos do denominado "arco do poder" (que tudo farão para lá chegar, alijando as suas responsabilidades próprias), isso sim))...; é imperativo que ninguém esqueça! Sobra uma consideração simples: se tudo está a correr bem (diz o governo) com o programa de ajustamento que termina em Junho de 2014 (este orçamento para 2014, pelos vistos, é o "toque de midas" que faltava); se o povo português está farto destas políticas (o que bem demonstrado ficou nas recentes eleições autárquicas)..., porque é que não se realizam eleições legislativas antecipadas em Maio de 2014 (em simultâneo com as eleições para o parlamento europeu)? Afinal quem é que tem medo de eleições antecipadas?! Quem será?! E porquê?!... Será que nem tudo está a correr bem com o denominado "programa de ajustamento" e já se perspectiva um novo programa (tenha o nome que tiver)? Parece que sim!

Nota de rodapé
Fragmento da Ode Marítima
"E vós, ó coisas navais, meus velhos brinquedos de sonho!
Componde fora de mim a minha vida interior! 
Quilhas, mastros e velas, rodas do leme, cordagens,
Chaminés de vapores, hélices, gáveas, flâmulas,
Galdropes, escotilhas, caldeiras, colectores, válvulas;
Caí por mim dentro em montão, em monte,
Como o conteúdo confuso de uma gaveta despejada no chão!
Sede vós o tesouro da minha avareza febril,
Sede vós os frutos da árvore da minha imaginação,
Tema de cantos meus, sangue nas veias da minha inteligência,
Vosso seja o laço que me une ao exterior pela estética,
Fornecei-me metáforas imagens, literatura,
Porque em real verdade, a sério, literalmente,
Minhas sensações são um barco de quilha pro ar, 
Minha imaginação uma ancora meio submersa,
Minha ânsia um remo partido,
E a tessitura dos meus nervos uma rede a secar na praia! "

Aditamento
REFORMA do ESTADO...  Palavras para quê? O melhor é ver e ouvir. Que falta de "sentido de estado"!!! Já cheira mal, verdade?

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