Hoje acordei com o sol a entrar pela janela
A questão "quem eu
sou" consumia-me, e a noite já ia noite dentro; estava convencido de que não me aproximaria da imagem da pessoa que eu sou. Os segundos e os minutos arrastavam-se, gradual e metodicamente (lentos e acelerados), quando (e mais uma vez sem se fazer esperar) a única fada que sabe
tudo, me interrompeu, afogueada e quase sem pisar o chão, com um “sabe que, de repente, um grande sol
começou a brilhar em minha casa nesta noite cerrada?”; tive uma necessidade imperiosa, continuou, de vir ter consigo e de estar pertinho e aconchegada a si. A estas horas da noite?! O sol
brilhou nesta noite cerrada?! Questionei-a...; e, nesse preciso instante, o que em mim já tinha vindo à superfície, mergulhou e voltou desaparecer. Meu caro, respondeu, o sol nasceu já noite cerrada (melhor seria dizer "noite serrada", traduz melhor o que aconteceu..., que lhe parece?) porque me senti feliz e amada e me recordei do nascer do sol no cromeleque dos almendres (há quanto tempo!). O sol, confidenciou-me ainda,
começou a brilhar em minha casa no preciso momento em que comecei a representar-me internamente..., dei por mim, com a luz por confidente e íntima de mim, a habitar-me nuns minutos cheios de sensações e senti calor e calor e muito calor; tive (imagine só)
necessidade de invectivar a minha mente, perguntando-lhe o que é que ela estava
a fazer comigo... Eu, estupefacto, deixei de lado as minhas preocupações
metafísicas, olhei-a de perfil e pensei: como lhe assenta bem o vestido
verde-musgo iluminado pelos olhos grandes a falar e insinuando uma intimidade
não esquecida. Nesse preciso momento (nunca mais vou esquecer, tenho a certeza) o que em mim tinha mergulhado e desaparecido, voltou à superfície exultante de alegria..., que alívio, que festa! A voz dela não se fez esperar, incisiva: não vou esperar pela manhã, ponha o ouvido na minha boca, vou revelar-lhe um segredo: só descobrirá quem é, se pensar, sentir e agir em simetria... Hoje acordei com o sol a entrar pela janela.
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