Eu sou mesmo emoções, nada a fazer

Ouvi com estes meus ouvidos de domingo (e vi com estes meus olhos de espreitar futuros) um político (se não me engano, de nome "qualquer coisa lino") afirmar que enquanto não houver uma administração pública portuguesa que seja sustentável, vai continuar a ser necessário desencadear um conjunto de medidas de austeridade (sistematicamente agravadas todos os anos) que afectam (não há qualquer dúvida) os salários, as reformas e as pensões e que tornam a vida das pessoas (e das fadas) um inferno, soprou-me afogueada e de olhos atónitos a minha insuperável fada. Mas não lhe parece, perguntou-me, que há qualquer coisa que não está bem quando esse político ainda acrescentou (mas que ...lino da mãe!) que os trabalhadores, os reformados e os pensionistas ou ficavam “comesmo” ou com um pouco menos “ducóquetinham”? (?!?! Brrr!!!)... Espantado com a sua pergunta, nem lhe consegui responder, nem dar troco e nem consegui segurar um sorriso-gago (tal era o seu ar furibundo a vibrar de vida e sensação), quando a ouvi dizer, driblando as palavras: estou agora a recordar-me que as expressões desse político são um desastre equivalente à (impossível) tradução dos escritos de Kant para navajo ou pintupi... Esquivando-me a um seu destemido e desenvolto espirro salgado, preparava-me para lhe perguntar o porquê daquela sua comparação tão estranha... Meu caro filósofo de trazer por casa, interpelou-me, vê no que deu ter-me aconselhado a reler a "Fundamentação da Metafisica dos Costumes" do Kant? Vou deixar-me, continuou (já de franja solta a encimar um narizinho empinado e de narinas soltas), de fugazes tiradas racionais... Antes me quero dobrar e tombar em risos livres e carícias soltas. E concluiu: eu sou mesmo emoções, nada a fazer.

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