Que convencida! O meu HERC2? Foi o que ela disse?!

Não quero parecer convencida, mas acho que lhe têm faltado os meus motes de escrita. Verdade? – Soprou-me melodia e de levezinho, ainda a manhã era menina, a única e sempre fada única. Claro que é verdade…, respondi de imediato, sentindo os macios dedos dela na pele do corpo por acordar. E, continuei, o problema é mais profundo porque sem os seus motes de escrita, deixei de saber escrever, e a minha visão das coisas e da realidade parece estar cada vez mais às avessas se comparada com a sua. Meu caro, interrompeu-me sem cerimónia, entre mim e si, existem diferenças no funcionamento do cérebro e estas diferenças traduzem-se em maneiras distintas de experienciar o mundo e a vida. Consegue imaginar um mundo de segundas-feiras magenta, sabores com forma viva, e ondulantes sinfonias verde-aveia? Consegue imaginar a vida em plena festividade de luz e som, cor e amor? Não, não consigo imaginar…, assegurei-lhe, dizendo que sabia, no entanto, que experienciar o mundo e a vida dessa maneira tão diferente, só é possível em virtude da sinestesia que permite visualizar o tempo e ver subjectivamente o mundo e a vida. Os olhos e o riso dela (bogalhados e a falar) abriram-se de par em par e desprenderam-se soltos e galhofeiros. Nem quero acreditar, disse ela baixinho, que saiba o que é a sinestesia e que tenha dificuldade em escrever; podia pelo menos tentar fazer um exercício simples de uma forma de sinestesia específica. Ou seja? – Desafiei. Não se enerve, deixe que lhe recorde que um sinesteta pode ouvir cores, provar formas e aromas, e até pode experimentar fusões de sensações (como eu sei o que isso é, suspirou). Admita, interrompi, que o que agora me preocupa é conhecer o exercício de sinestesia que me irá propor (será que quem faz um exercício de sinestesia também é um sinesteta?). Ela de rosto lindo afogueado e de mãos esguias e náufragas muito quietas no regaço, ditou e perguntou: para a maior parte dos seres humanos a primeira semana do mês de Fevereiro não tem qualquer lugar particular no espaço…; porque é que eu consigo indicar localizações precisas, relativamente ao meu corpo vivo e desassossegado, para o número três e para o número quatro, e até consigo apontar para onde está guardado o número 44? Consegue porque é dotada de uma espécie de sinestesia de sequências espaciais e, sendo assim, com o aumento de conversas cruzadas entre as zonas sensoriais do seu cérebro, é uma incessante invenção de si mesma, atirei de chofre mas com trejeitos de cuidado…; sobra-me apenas saber porquê "a primeira semana do mês de Fevereiro". A espécie de computador molhado que é o cérebro dele, está alagado entre o pêndulo solto dos sonhos dele e a febre avassaladora de mim..., espero que o seu HERC2 não esteja afectado, ouvi-a dizer, distintamente, na gaguez da sua característica gargalhada desfranjada e solta.... Que convencida!O meu HERC2? Foi o que ela disse?!

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