O estado da crise

Há duas semanas, Portugal vive a maior crise política dos quase quarenta anos de vida da jovem democracia portuguesa (quase quarenta anos de vida que foram um sucesso social no desenvolvimento de Portugal, nunca é demais realçar e apregoar). Trata-se de uma crise desencadeada de forma imprevisível; de todo o modo, alertei aqui para o estado de adiamento e de "paz podre" que se vive em Portugal. Atente-se (é muito importante não esquecer) que Portugal, em bom rigor, é, nos dias que correm e já dois anos passados, um protectorado de credores.
O início próximo desta crise política teve origem numa carta de demissão do ministro das finanças, em que o próprio reconhecia não só a falência da política de austeridade (o fenómeno galopante do desemprego é ponta do "iceberg"!) do actual governo quanto a falta de liderança do primeiro ministro; carta que foi seguida de uma "caricata" e irresponsável apresentação de um pedido de demissão do ministro dos negócios estrangeiros e líder do segundo partido da coligação governamental. O meio desta crise (onde nos encontramos) cabe por inteiro ao Presidente da República que, perante uma situação política muitíssimo grave, agiu bem e agiu mal. Agiu bem quando confrontou os partidos com as suas responsabilidades e propôs que tentassem um acordo para se equacionar e se resolver a catástrofe social que se abateu sobre Portugal. Agiu mal quando, perante a realização calendarizada (imperativa e durante uma semana) de um conjunto de reuniões entre três partidos (os partidos que assinaram o “Memorando do programa de assistência económica e financeira”; os mesmos partidos cuja governação infeliz trouxe Portugal a esta situação crítica), acreditou (convencido ou não, disse que acreditava) no sentido de responsabilidade dos partidos para delinearem um acordo, tendo em vista a governação de Portugal após este período de soberania mitigada; e ainda agiu mal quando, neste tempo de crise política, decidiu manter uma deslocação às ilhas selvagens, onde falou de tudo e da crise e das cagarras. O fim desta crise resolve-se com eleições apenas e só (os discursos sobre eventuais malefícios das eleições, são politicamente preocupantes); uma qualquer outra solução (mais ou menos criativa) poderá ser o inicio do fim do regime a curto ou médio prazo.
No entretanto, é fundamental que os partidos portugueses ((hoje infelizmente liderados por uma classe política (pouco culta, pouco sábia e até infeliz no domínio da nossa língua portuguesa) nascida e alimentada pelos aparelhos dos partidos e pelos dinheiros da Europa)) se deixem de atitudes tribais (é o que parecem ter, e em política o que parece, é!). É imperativo que percebam que se vive (na Europa e no Mundo) uma reforma do sistema capitalista que também afecta Portugal e de que desconhece o fim; que ganhem juízo e tomem consciência que servir Portugal não é servir-se; que se consciencializem que não donos de Portugal e que não podem rasgar contratos com as pessoas; que  mudem de vida e que, abrindo-se à sociedade, assumam as suas responsabilidades ouvindo o país.
Se estivermos atentos às declarações dos partidos (sobre a falência de um desejado “acordo de salvação nacional”) com representação parlamentar, verificamos que, cada um deles afirma que a razão está do seu lado: todos e cada um ganharam, todos e cada um apontam rumos, todos e cada um apontam propostas de solução.  A verdade nua e crua é que o país perdeu e os partidos ganharam… 
Está a chegar a hora do manguito, cuidem-se!

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