Manhã teia

Estava eu sentado na serra pedregosa manhã cedinho (já a manhã se esticava e o sol se tinha levantado afoito), matutando em texturas da minha história pessoal sem palavras de explicação, e aberto a um poeminha solto e leve; junto a mim uma aranha ((que mudava (preguiçosa) de lugar quando o sol se deslocava)), interrompeu-me o pensamento e, com simplicidade de dentro e de fora, ciciou-me um “sou uma aranha deliciosa, bonita e sábia”. A imagem de mim para comigo era de um andarilho matinal, perdido e a pensar, espantado com a fragilidade da teia perfeita e esfarrapada que ela construía. Teia perfeita e esfarrapada?- Não, essa agora! Apenas quero economizar baba, invectivou-me, enquanto procurava um pouco mais de sol. Imitei-a, mudando de posição. Ela continuou: se gosta de fazer poemas, leve a minha teia consigo porque ela apanha pessoas mais que moscas e responde às suas indecisões idiotas. Preparava-me para lhe agradecer, ajeitando caruma seca e solta para ela permanecer ali comigo, quando, sem cerimónia e zangada, me atirou um “saia do caminho do meu sol, quero esquecer que o vi”. Tal igual! – Exclamei, enquanto colhia e me enchia de "silêncios-horizonte" para alisar o tempo, para espreitar os pássaros a pousar na manhã das árvores e para guardar o sonhado e desejado contágio dela!

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