Triste epílogo da turbulenta história dos três DDD!

1. Devem sublinhar-se (pelo significado que revestem para entender a realidade portuguesa actual) a conclusão e a divulgação pública do estudoencomendado a “Augusto Mateus e Associados” pela Fundação Francisco Soares dos Santos, sobre os resultados (positivos e negativos) dos primeiros 25 anos de aplicação dos fundos comunitários em Portugal. Uma primeira leitura do estudo (necessariamente cursiva e holística) remete-nos para um estudo de grande profundidade (e de muito rigor), mas deixa-nos apreensivos e com duas questões à flor da pele. A primeira, o estudo assenta em dados relativos a fundos destinados a "regiões portuguesas" e Portugal não fez a regionalização que a constituição portuguesa determina. A segunda (corolário da primeira), quem nos garante que os fundos comunitários foram mesmo aplicados nas "regiões" a que eles eram destinados e que não foram desviados para outras "regiões"? Uma segunda leitura do estudo (mais pausada, mais serena e menos cursiva), obriga-nos a que olhemos para este estudo em dois segmentos de tempo: de 1986 a finais dos anos 90 e de finais dos anos 90 a 2011. Vejamos.
2. Ninguém (hoje, à distância de cerca de 40 anos) parece ter dúvidas que, após a revolução de 25 de Abril de 1974, a entrada de Portugal na CEE (Comunidade Económica Europeia) era a única possibilidade de um futuro diferente e melhor para Portugal, quando se pretendia afirmar, concretizar e optimizar o último dos três DDD (descolonização, democratização, desenvolvimento); os míticos e célebres três DDD que norteavam o denominado "Programa do MFA (Movimento das Forças Armadas)". Pensando assim,  a entrada de Portugal na CEE foi um êxito político.
2.1. Desde 1986 e até finais dos anos 90 do século passado (assim é escrito no estudo), Portugal teve um período de crescimento, de desenvolvimento e de prosperidade, devido essencialmente a um manancial de fundos comunitários. Porém, houve ausência de visão estratégica, houve políticas de fundo que não foram desencadeadas, acumularam-se erros, negócios escuros e corrupção. Talvez, por isso (quem sabe?!), valesse a pena fazer, a partir dos resultados deste estudo, um calendário hipotético do que deveria ter sido feito... Para que a história não se repita e para que se tenha em conta a necessidade de ponderar no carácter decisivo da aplicação dos próximos fundos comunitários em "regiões" deprimidas de Portugal, tendo em vista o seu desenvolvimento sustentado.
3. Ao longo do segundo segmento desses 25 anos (a que o estudo se reporta), algumas circunstâncias (de que se destacam factores negativos ligados à evolução da própria União Europeia no sentido da construção da união económica e monetária, a uma crescente quebra de solidariedade entre países, a um alargamento a 27 países, a uma crise que à escala europeia nunca deixou de deixar as soluções na dependência da Alemanha e que, à escala mundial e global, ainda não encontrou perspectivas de solução satisfatória), levaram a que as fragilidades portuguesas (que sempre viveram à sombra de um optimismo descuidado e sempre desencontradas da realidade), viessem à tona e no seu maior e melhor esplendor.
3.1. Fragilidades terríveis: a fatal tendência lusitana para a má administração e gestão dos recursos próprios e alheios; a farta imprevidência-cigarra quanto ao futuro, a desastrada opção política pelo investimento não produtivo e o desnorte pelo incentivo ao consumo (será que não há mesmo responsáveis?!); as especulações financeiras de vária ordem (embrulhadas em nepotismo e arrogância burra e parola); a desnorteada tendência para entender os fundos europeus como uma espécie de poço sem fundo. Ou seja, tudo aquilo (e ainda mais) que alguns alimentaram e a que outros assistiram de forma conivente, até termos chegado a um desequilíbrio geral do nosso país, em nome de demagogias egocêntricas e de falsas políticas, insustentáveis e megalómanas.
4. É verdade que carpir mágoas não ajuda... Mas é importante saber as razões que levaram a que estejamos a viver, hoje em Portugal (tragicamente), sob a dependência de uma "tróika" de credores e no mesmo tempo de uma sofrida vida colectiva em que (pasme-se!) os políticos portugueses responsáveis pela gravíssima situação a que chegámos, assobiam para o lado e teimam em lançar aos ventos que o fim do pessimismo e que a chegada do optimismo se resolvem por decreto, mas sem conhecerem o vento que o futuro sopra... Triste epílogo da turbulenta história dos três DDD! 

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