São pepineiras!

Conheci, meu caro, o actual presidente dos Estados Unidos, ainda ele era um menino; e já na altura se dizia que ele tinha carisma, acordou-me com uma festa e trauteando as palavras, a minha sempre fada atenta quando a manhã certeira se encostava aos vidros da janela. (Recordo-me que, quando acordei afagado e afadado, foi bonito ver a manhã esticar-se de preguiça!). Mas ela, sem me deixar sequer uma tentativa de pergunta, garantiu-me que concordava comigo e que sim, frisou, que há presidentes que marcam a diferença, que há mesmo! Já sei, exclamei, do que está a falar. Claro que sabe, respondeu de imediato. Estou a falar de um texto seu sobre a educação das crianças mais pequenas; só que a sua mania de filosofar sobre tudo e sobre nada, não lhe permite valorizar os pormenores. Reparou, por acaso, no que o menino (para quem o presidente olha com atenção) tem à sua frente e em simultâneo com o que está em cima da mesa? Não viu. Já percebi, sussurrou, enquanto pendurava o rosto na sua mão direita. Não viu o concreto e o abstracto “à mesma mesa” para acessos diferentes em função das escolhas? Bem observado, não pude deixar de comentar, deliciado com a sua perspicácia. Infatigável e como quem quer dizer tudo depressa, ela perguntou-me se eu tinha visto os jogos de madeira (blocos geométricos) no armário ao fundo. Não só vi, ripostei, quanto sei que quase desapareceram das salas de educação porque as crianças os atiravam umas às outras e magoavam-se (agora até só se encontram em catálogos de material alemão e são caríssimos)… Verdade que sim, meu adorado pedagogo de trazer por casa, interrompeu-me. Gente ignorante fez com que desaparecessem; mas esses blocos geométricos, acredite, são fantásticos para construções e para a percepção intuitiva de relações e noções matemáticas de espaço, tamanho, proporção, etc. E, insistiu, se as crianças se magoarem, paciência, aprendem que dói; e, se esfolarem os joelhos, paciência, é óptimo brincar e acender e apagar corações em jeito de pisca-pisca avariado (a propósito, sabe, perguntou-me com os olhos bogalhados emitindo brilhos tímidos, que o meu coração tem um dono e que há muito tempo o tem?)… Será que não viu que tudo o que ali está, é material de recursos educativos que permite opções interessantes e inesgotáveis? Na minha forma de ver, respondi-lhe, creio que está a ser um pouco fundamentalista; o facto de ter conhecido Barack Obama quando era menino, obnubilou o seu olhar de tal forma que não me admiraria se me dissesse que, em tempos idos, até foi uma cigarra (linda e de asas seda, como convém) que contou uma estória verdadeira a uma formiga atada.... Fundamentalista uma ova, exclamou afogueada de intimidade e sibilando em surdina: querem ver que formiga tem catarro? (Ela ultrapassou todos os limites quando me chamou formiga, pensei desvairado). Meu caro, continuou sem se dar por achada, aqueles materiais que se vêem na imagem, não são umas quantas tolices, ditas pedagógicas e educativas e pedagógico-educativas, que enchem o olho, que esgotam possibilidades em apenas três utilizações mas que (o seu lindo pescoço dominava, altivo e elegante, o espaço disponível) respondem bem a desejos idiotas de alguns aprendizes de pedagogia de vão de escada carcomida… Sabe que, nalguns espaços rotulados de educativos, tenho encontrado montes de inutilidades, como (para seu conhecimento, por exemplo) a treta das teclas que dizem cão e ão, ão; que dizem gato e miau, miau (com sotaque português manhoso, imagine só ao que se chegou!). Enfim, caríssimo, já não sei mais do que desabafar a minha indignação; sabe o que penso mesmo que são essas inutilidades?... São, rematou com ar enfastiado, pepineiras!

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