Eu sou a sua identidade auto poética!
Pois tem que ser, meu
caro, disse-me olhando-me de frente a
minha fada favorita. Uma vez que ainda não percebeu a minha peculiar importância na sua
vida, vou ter de lhe explicar, hoje que é um dia de sol e de chuva molhada, quais são as três únicas formas de vida de um
organismo multicelular, entendidas com base na forma como a subsistência é
derivada ou o sustento obtido. Como que foi que disse? - Perguntei intrigado. Tenha calma, eu explico, respondeu. Como deve e tem obrigação de saber, a vida só produziu alguns modos de existência
básicos durante a história natural deste belíssimo planeta Terra a que eu prefiro
chamar planeta Água. Gosto da ideia de o planeta Terra se dever chamar Água, não pude deixar de a interromper. Mas
ela fez que não ouviu e, sem se dar por achada, continuou afirmando que a primeira forma de vida é a forma planta, em que a
subsistência assume a forma de alimentação através da luz; que a segunda forma
de vida é a forma fungo, em que o alimento é absorvido do meio circundante de
outros seres; que a terceira forma de vida é a forma animal, em que a
subsistência tem que ser activamente procurada e obtida. A minha cara de espanto
devia ser tão estranha que só dei por mim quando ela desbogalhou os olhos numa
sonora gargalhada, ancorada (mas de formato ébrio) num rosto lindo de nariz com narinas afoitas. Enquanto ela se ria a bandeiras despregadas pelo estupor do
meu rosto, perguntei-lhe embalado pela curiosidade, se a forma
de vida animal é uma forma peculiar porque se caracteriza por um tipo de existência
sensório motora de estar no mundo que engloba a locomoção e a percepção, a
emoção e o sentimento, e a noção de um eu. Ainda não refeita do ataque de
riso, disse que sim, que a forma
animal era uma forma peculiar de vida e que admitia que eu me tinha expressado
bem e que me tinha aproximado da noção de sentiência. Pelo seu ar interrogante aparentado de sapo concho
portoriquenho, percebi já, disse sorrindo,
o seu incómodo; eu explico o que é a sentiência, não se amofine. Sentiência, meu caro, é a capacidade de sentir a presença do
próprio corpo e do mundo e fundamenta-se na identidade auto poética e na capacidade
de formação do sentido da vida. Por via das dúvidas, no entanto, nunca se
esqueça que quando a vida lhe apareceu, os dedos do tempo me amarraram a si; daí que não poderá viver sem mim porque eu lhe faço falta, muita falta, veja se deixa de ser casmurro e agradeça à vida. E, finalmente e a talhe de foice, não se esqueça de frequentar assídua e presencialmente (todos e cada dia de preferência) a minha ternura interna... Eu sou a sua identidade auto
poética!
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