... a diferença não é um empecilho, é uma vantagem!


Dormia eu a sono solto, quando a minha sempre fada decidiu desalojar-me de um sonho muito interessante (eu sorria nesse sonho, recordo-me bem) e me acordou, dizendo que tinha tirado um livro à sorte de uma sua estante maneirinha, e que, ao folhear as páginas, aterrou numa delas e os seus olhos viram uma frase que, naquele momento, me trauteou como quem cantarola no banho, embrulhando a felicidade nos acordes de uma viola desnorteada e tonta: "É possível cantar o amor e a poesia através de ti - porque eu sei que nós todos sabemos que és o amor e a poesia a nascerem desde o princípio do mundo." Tombando no início da manhã que ia ficando lilás, senti os seus dedos atarefados no meu corpo por acordar; sabendo-me vivo, afundei-me no mundo do silêncio, sentindo um tropel no coração. Não se dando por achada, continuou dizendo que o livro terminava com uma citação de Maurice Blanchot e perguntou-me, de chofre: será que o meu caro filósofo de trazer por casa, tem uma ideia de quem seja Maurice Blanchot? Obviamente que sim, respondi de imediato, assegurando-lhe que dispensava as suas provocações porque há muito eu sabia que Maurice Blanchot era um filósofo/escritor; que era ele era um seu velho amigo e que  os dois tinham tido uma conversa a meu respeito e a propósito da diferença. Sem a deixar ripostar, recordei-lhe ainda este sítio na internet (à entrada tem uma imagem lindíssima, soprei-lhe ao de leve) de que ela tinha sido a inspiradora. Inventando, de imediato, um espanador de incomodidades, disse-me numa frase enrolada e quase comovida que sim, que tinha tido essa conversa e que Maurice Blanchot tinha resumido essa deliciosa conversa de forma brilhante. E disse mais. Disse que se estava rir por dentro por causa dos meus ciúmes e que o resumo da conversa correspondia à citação da última página do livro que ela tinha tirado à sorte da sua estante maneirinha; assim: "Que há fora de nós? - Ninguém. Quem é o distante e quem é o próximo? - Nós aqui e nós ao longe. Quem é o mais velho e quem é o mais novo? - Nós. E este sol, onde é que ele vai buscar a sua luz? - Apenas a nós. E o céu o que é? - A solidão que há em nós. E quem deve ser amada? Eu." Sorri com pedaços de lembranças várias de estórias bonitas (que, acredito, vão acontecer de novo), em plena festividade e sem palavras de explicação; e concluo que o mundo é bonito por causa dela, que vidas e destinos abrem travessias e que a diferença não é um empecilho, é uma vantagem!

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