Assim fala o Deus de Espinoza


Deixa de rezar e desfruta a vida, trabalha, canta, diverte-te com tudo o que eu fiz para ti. A minha casa não são esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que dizes que são a minha morada. A minha casa são os montes, os rios, os lagos, as praias. É aí que eu vivo. Deixa de me culpar pela tua vida miserável. Eu nunca disse que eras pecador e que a tua sexualidade era algo de mau. O sexo é uma prenda que eu te dei para que possas expressar o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria. Não me culpes por aquilo em que te fizeram acreditar. Não leias livros religiosos. Lê-me no amanhecer, na paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos de uma criança. Deixa de ter medo de mim. Deixa de me pedir perdão. Eu enchi-te de paixões, de prazeres, de sentimentos, de livre arbítrio. Como posso castigar-te se fui eu que o fiz? Esquece-te dos mandamentos que são artimanhas para te manipular. Não te posso dizer se há outra vida. Vive como se não houvesse, como se esta vida fosse a única oportunidade de amar, de existir. Deixa de crer em mim. Quero que me sintas quando beijas a tua amada, acaricias o teu cão ou quando tomas banho no mar. Deixa de me adorar. Não sou tão ególatra. 

Sobre este inspirador texto (tão estudado e milhentas vezes citado) de Espinoza, consulte-se (com tempo) aqui "El miedo al erotismo de la Biblia" de Juan Arias... Para uma aproximação ao sentido do "Cântico dos Cânticos", atribuído ao Rei Salomão.

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