A propósito de vagas negativas no concurso de professores


Há quem (ontem 23 de Abril de 2013), tenha escrito e afirmado, com convicção, "que haverá muitos horários-zero resultantes directamente da implementação do ensino dual ou vocacional nas escolas". Para o  escrever e para o afirmar, socorre-se e apoia-se (lendo apenas o que quer ler) na alínea c) do Artigo 5º (Plano de estudos) da Portaria n.º 292-A/2012 que diz, textualmente: "Vocacional, integrada pelos conhecimentos correspondentes a actividades vocacionais e por uma prática simulada preferencialmente em empresas que desenvolvam as actividades vocacionais ministradas". 
Trata-se de uma afirmação que não é séria. É uma afirmação que não é séria porque o seu autor sabe bem que a dinamização dos cursos vocacionais, nada tem a ver com um qualquer maquiavélico "Plano A para Concretizar as Vagas Negativas" como ele quer fazer crer. Pretende-se (esta é a verdade), com esse ensino "dual ou vocacional", a inclusão escolar de todos os alunos, abrindo alternativas de percursos escolares, flexíveis e de banda larga, evitando assim o abandono escolar e garantindo o desenvolvimento de talentos individuais. Pena é que, tão tarde, o Ministério da Educação tenha acordado para a realidade. Prova evidente de que acordou tarde, é este Ministério da Educação ter o desplante e a arrogância de pretender desenvolver "uma experiência piloto": basta comparar o preâmbulo e a matriz curricular dos cursos na referida portaria com o preâmbulo e a matriz curricular dos cursos desenvolvidos na Casa Pia de Lisboa, no ano lectivo de 1997/98 e que constam no Despacho Normativo n.º 64/98para se entender a descabelada ignorância ou a má fé do legislador.
Ignorância ou má fé do legislador que a imagem no fim desta página (basta clicar em cima da imagem para ler melhor), referente ao ano lectivo de 2002/2003 (sim, referente ao ano lectivo 2002/2003, há dez anos!) na Casa Pia de Lisboa (uma rede de escolas de excelência que também a comunicação social preferiu ignorar em favor de um "desnorteado" manancial de notícias (verdadeiras, falsas e inventadas) sobre o denominado e não esclarecido "processo de pedofilia"), tão bem evidencia. Daí que a longa e inovadora experiência da Casa Pia de Lisboa ((na educação e no ensino (regular, profissional, especializado de surdos e de surdocegos)) não possa e nem deva ser esquecida ou ignorada: trata-se de um património imaterial educativo e de ensino da sociedade portuguesa.
Então não é que, há dez anos atrás, utilizando uma linguagem actual, já a Casa Pia de Lisboa: era um agrupamento escolar, garantia uma escolaridade integrada de 12 anos (com alternativa de percursos escolares e profissionais), integrava crianças e jovens surdos e surdocegos, desenvolvia um leque variado de actividades extra curriculares (do desporto, à música e à dança), atribuía bolsas para frequência de cursos no ensino superior ou de estágios em empresas...; e, de acordo com a sua missão centenária, dava sempre prioridade (com apoios efectivos) aos alunos(as) e famílias mais carenciados. Mas, em abono da verdade, diga-se que, a partir do ano lectivo de 2003/2004, alguns técnicos e professores, directamente importados das prateleiras (bafientas, vazias de ideias e corporativas) do Ministério da Educação da altura, tudo fizeram para destruir (nalguns casos conseguiram e deviam ser responsabilizados por isso) o que, na Casa Pia de Lisboa, estava bem feito, funcionava bem, tinha e garantia resultados fiáveis e seguros, como agora se comprova em estudos (felizmente e em boa hora) efectuados, já publicados e que podem ser consultados.
E, para concluir (por agora e apenas)... Não, claro que não! Não é esse tipo de ensino vocacional, meu caro Paulo Guinote, que coloca professores no desemprego ((na Casa Pia de Lisboa havia (e continua a haver, de certeza) excelentes professores e não havia professores com horário-zero)): esse tipo de ensino precisa, isso sim, de muitos professores e de muitos outros profissionais qualificados (e altamente qualificados) que saibam pôr, sempre e em qualquer circunstância, os alunos e as alunas (com as suas necessidades e com os seus talentos) à frente de um qualquer interesse meramente corporativo… A liberdade de ensinar e de aprender assim o exige, meu caro!
Haja decoro, tino, bom senso, verdade, ética e saber...O resto virá por acréscimo!


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