Desejo de futuro


O poeta tem na lembrança as ondas do mar e as curvas duma sereia menina. A praia está deserta, serenamente ventosa e fria, mas ele consegue imaginar as marcas duns pés descalços de pele nua, em jeito de voo dançado, na areia que ele agora pisa, fascinado pelo mistério que essas marcas gravadas/imaginadas encerram. São as linhas de um coração conhecido que se abrem à sua inquietação e à sua imaginação; o poeta, quando se convence que aqueles pés nus e descalços exigem uma emoção ajoelhada, enche-se de silêncios e escreve com alma. Ele conhece, revisita e estuda ao pormenor (e depois descreve), com regularidade de cronómetro, aqueles lugares onde quer e sabe que pode dizer: já fui e vou ser ainda muito feliz aqui. Desta vez e neste dia importante, privilegia o pormenor do preguiçoso e elegante movimento de uns pés descalços naquela praia maneirinha de água salgada. Exercita um sorriso propício à poesia e emociona-se ao confirmar que o revivenciar outros momentos, requer uma fatia de tempo acumulado...Sente-se amarrado pelos dedos do tempo que o puxam para o futuro, e percebe que deixou de ter medo e que deve aprender a apreciar a ternura de um sorriso doce. Hoje é um dia cheio de vida!

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