Fé frágil

A soberba (elegante e altiva) ironia de uma fada que subjaz à sua afirmação de que é imperativo passar a escrever com o coração porque há textos que “sem ofensa, nem uma fada aguenta”, reflecte a sua fé frágil: ela, mesmo sendo uma fada perfeita, não poderá vir a ser assaltada pela vida. Na minha opinião (e tão sábia que ela é!) não entendeu ainda que uma qualquer sensação (ainda que impessoal) está sempre a amadurecer numa experiência subjectiva silenciosamente guardada; e esta experiência está sempre a fluir e a desejar sempre uma experiência seguinte e nova. Que pretensão a sua, que arrojo e que desplante o seu! Essa agora! Fé frágil? Eu é que não entendi ainda o quê? - Ouvi, com ouvidos de ouvir, essa fada reclamar. Pois fique sabendo, continuou dizendo, que é na minha fragilidade que radica a força do meu querer, do meu saber e do meu poder. Sei perfeitamente que vejo a realidade sob o meu prisma individual (ai de mim se a visse sob o seu embotado prisma de trazer por casa) e não me tenho dado mal com isso. Será que ainda não entendeu que ser frágil é algo que faz com que sejamos nós próprios e não outros? Será que ainda continua tão lento no raciocinar? O tempo passa, as sensações vão e vêm mas nós ficamos onde estávamos, meu caro atrapalhado mental. Ainda não deu por isso? Não percebeu quão importante é a soma de experiências passadas encerradas no cérebro de cada um de nós? Aprenda a escutá-las, sim? 

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