De que é feita uma decisão?

Há dois aspectos que formam uma decisão. Um processo cerebral que acontece através das complexas redes neuronais que leva a escolher isto ou aquilo e um momento em que conscientemente se decide fazer isto ou aquilo. Isso é o que o meu caro (hoje regresso ao tratamento formal) pensa e petulantemente afirma, interrompeu-me mais uma vez a fada astuta e sábia. E por uma razão simples. Antes de tudo isso, no cérebro sucede algo que prepara a decisão, que conduz até ela e que influencia a forma como a mente consciente se decide por isto ou por aquilo.
Se assim for, disse eu, há dois momentos nesse processo cerebral e, só depois deles, acontece uma decisão consciente. Bingo!- Riu-se ela, ao mesmo tempo que dizia: mas como é um pouco lento de raciocínio, eu explico devagar. Ora atente nesta experiência científica. Registada a actividade cerebral de pessoas que que deviam tomar decisões livres (optando por carregar num botão direito ou num botão esquerdo), descobriu-se que se podia predizer a sua decisão (se iam carregar num ou noutro botão) sete segundos (sete, meu caro) antes de pensarem que tinham decidido escolher o botão direito ou o botão esquerdo.
O que me está dizer, perguntei atarantado, é que não só o cérebro inicia um processo antes de tomarmos uma decisão quanto sete segundos antes, o cérebro (neste exemplo de experiência científica) já escolheu o botão que será activado? É isso? Então o meu cérebro pode predizer o que vai acontecer no futuro (no meu futuro) antes de eu tomar uma decisão? Sim claro, respondeu. Não percebo a sua atarantice. Há quanto tempo lhe venho dizendo que o cérebro se muda a si próprio e que quando pensamos que estamos a mudar algo em nós mesmos, o que acontece de facto, é que o cérebro se está reprogramando e, portanto, não é só a nossa consciência que toma decisões para mudar mas é o cérebro como um todo. Há muitas coisas que acontecem no cérebro e no nosso inconsciente que não experimentamos conscientemente (tenho que lhe explicar tudo ao pormenor, que aborrecimento!).
Acho que percebi, arrisquei dizer. O cérebro processa todas as opções de forma inconsciente e só depois intervém a mente consciente. Ou, de outra forma, existem decisões conscientes mas o tempo em que a decisão chega à consciência não é o tempo em que se realiza a maior parte do trabalho para determinar o que (ou quem) iremos escolher. Meu caro, respondeu a fada com ar prazenteiro, eu que sou fada não preciso desses seus raciocínios meio atrapalhados e confusos, mas reconheço que está no bom caminho; porém, e sem ofensa porque ultimamente anda muito sensível, devo dizer-lhe que se está parecendo com um neurónio perdido e olhe que um neurónio perdido nem sabe a que cérebro pertence. Veja lá se dá mais atenção ao que eu lhe digo e sugiro.
Se eu sou um neurónio perdido, ela o que é?- Pensei em surdina. Sou a sua razão de ser, respondeu a fada adivinhando o meu pensamento. Olha a surpresa! Então eu não sei sempre o que pensa, decide ou escolhe, sete segundos antes?
Fingi que não ouvi. Vou pagar por isso, aposto.
Singelo contra dobrado!

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