Momentos concentrados de consciência

Inventamo-nos a partir das nossas próprias sensações e...
Inventamo-nos ou descobrimos o que somos e para que fomos criados desde o início do tempo? Eu que conheço o Olimpo, desde o tempo em que nasci Diana, interrompeu-me a escrita a minha fada preferida e única, descubro a minha identidade metamorfoseada em qualquer tempo da vida, em momentos concentrados de consciência. O que são momentos concentrados de consciência?!- Disparei eu, aborrecido e sem pensar.
Meu caro (outra vez o “meu caro”, pensei apreensivamente), explicou ela, pegue no acto de olhar para uma mensagem enquanto objecto a que presta uma atenção particular e diga-me se é ou não verdade que, se a mensagem nos agradar, aumenta nesse momento a sensibilidade dos nossos neurónios? Não sabe responder, já percebi. Eu explico mais devagar. A atenção que damos a essa mensagem, apela ao nosso eu ficcional e perspicaz – uma entidade que para si é estranha (tenho pena, mas é assim) – que é o único que sabe que os neurónios excitados se unem numa coligação temporária que entra no fluxo da nossa consciência: a esses momentos eu chamo de momentos concentrados de consciência.
Não quero desapontá-la, disse eu, mas não estou convencido. Pense comigo. Quando me diz que conhece o Olimpo, o seu Eu parece real mas não o é, a menos que a sua realidade dependa de um milagre; e por isso, mesmo descontando a elegância intelectual com que me tenta “explicar devagar” porque acha que não sou capaz de entender o que me explica, continuam a existir problemas sérios que devem ser resolvidos antes de se descobrir onde o seu Eu se esconde.
Mostre-me e descreva-me um desses problemas sérios, interrompeu-me levemente agastada. Ou prefere fazer afirmações retoricamente vagas? Insisto em lhe dizer que o contrário é que é verdadeiro, ou seja, tem que aprender a pensar comigo, não sou eu que tenho de aprender a pensar consigo. Eu sou uma estranha amálgama de sonho e realidade, eu sou o resultado do estranho casamento de uma deusa arco-íris com um granito pensante (quem me dera ser eu o granito pensante, pensei eu!). Sabia?- Continuou ela, não se tendo apercebido do meu desejo, aparentemente. Claro, insistiu ela, que nem sequer imaginava alguma vez recorrer a uma metáfora deste tipo porque não sabe aceitar a realidade frágil da sua existência em momentos concentrados de emoções que se sentem na pele de galinha que elas provocam (espero que saiba que na frase anterior a expressão "pele de galinha", é uma metáfora; como é desgastante ter que estar sempre a explicar-lhe tudo!).
A sua sorte é que sabe que eu agora eu não tenho resposta, mas vou concentrar-me no que diz e um dia destes falamos com mais tempo e vagar (eu escolho a ementa do almoço) e, nessa altura, veremos quem tem razão, respondi com súbita intensidade. Eu tinha acabado de perceber a importância de que estar ao nível da experiência comum (mesmo que com fadas a interromper o pensamento), pode ser ao mesmo tempo um milagre ou um êxtase.
Deixe de se expressar na sua filosofia barata e de trazer por casa (e, por favor, pare de continuar a imaginar que eu não leio os seus pensamentos); tente, isso sim, descobrir quem foi e quem é o deus Janus; talvez (quem sabe!) fique mais perto do que procura, respondeu ela, rindo-se…
Enigmaticamente!

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