O que é a realidade?

Aquilo que nos interessa, de facto e todos os dias, é a nossa realidade; e a percepção da nossa realidade está condicionada pela mente e pelos processos sensoriais. O que é importante é o que percebe o nosso cérebro, o que sentimos, o que captamos e é a  isso a que chamamos realidade. Mas o que é a realidade? Um conceito filosófico tratado ao longo tempo, claro que sim; uma forma de o cérebro se (nos) divertir, também. Mas é mais, muito mais que isso.
A verdade é que, para além de nós, apenas há matéria e energia que o nosso cérebro transforma em potenciais de acção e que, de seguida, transforma em percepções. Estas percepções são a forma que temos ao nosso dispor, para entendermos o mundo que nos rodeia. Nada existe fora de nós, nem sequer a luz quando abrimos os olhos... Apenas matéria e energia. O nosso cérebro capta a informação através dos sentidos e transforma-a em percepções conscientes: cheiro, sabor, gosto, luz, visão…Quem vê, gosta, toca, sente, é sempre o cérebro que, ao mesmo tempo, cuida de guardar bem guardado aquilo que a nossa mente se recusa a aceitar e, atenção, nós somos (senão o que é que somos?) a nossa mente.
Pela primeira vez estou a gostar da sua escrita (que injustiça, pensei eu); mas, cuidado, esteja atento porque o cérebro engana-se a si mesmo (para nos defender), oiço dizer a voz inconfundível (no som e no timbre) da fada sábia, e sem nunca nos enganar a nós. Perante o meu ar incrédulo, ela continuou: imagine uma pessoa que perdeu um braço num acidente e que o continua a sentir porque a parte com que o cérebro processa as sensações tácteis que essa pessoa experimentou, permanece intacta.
Quer isso dizer que determinadas experiências de carinho e de ternura também permanecem no tempo? - Perguntei apenas para confirmar o que já sabia. Claro, respondeu. Pensa que eu não percebo a sua pergunta? Pensa que eu não percebo que quer saber se a memória que tinha de uma voz, por exemplo, pode desencadear sensações (se ouvir essa voz novamente) que já sentiu e já viveu? Acha que sou parva? Há quanto tempo venho discutindo consigo a ideia de que um neurónio não sabe nada de nada e de que são apenas os grandes circuitos cerebrais que, ao trabalharem de forma integrada, dão lugar à consciência de si próprio e consistência e saber à autoconsciência?
Então o meu cérebro que constrói a minha mente (aquilo que eu sou, ou que julgo que sou) guarda criteriosamente determinada informação (táctil, por exemplo) a que ele teve acesso e processou, sempre à espera que as circunstâncias se alterem (ouvindo de novo, por exemplo, uma voz mesmo que não esquecida) porque ele sabe o que é melhor para mim? Ele é então o meu anjo da guarda? É isso? – Perguntei eu com os “olhos tipo fada” para evitar uma resposta desagradável. 
Não resultou fazer olhinhos de fada. 
A resposta foi rápida e fulminante. Eu é que sou o seu anjo da guarda e há muito, muito, muito tempo. Não o sente, não acabou de sentir no som e no timbre da minha voz? 
É um tosco de ouvido e um atado nas emoções, mas eu gosto de si!

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