O Eu

Uma das formas de nos aproximarmos do significado do Eu, é começar por derrubar a entediante noção de que o Eu (noção plasmada no conceito de consciência do século XIX), não é mais que uma peça do nosso mobiliário corporal. Abandonemos a ideia de que o Eu é essa peça do nosso mobiliário pessoal em favor de uma ideia nova, bem mais interessante; a ideia de que o Eu é um ardil da nossa mente ou, dito de outra forma, o Eu é a nossa obra de arte ou seja, é uma obra ficcional criada pelo cérebro para retirar sentido da sua própria desunião e da multiplicidade de personagens que o habitam.
Na vida que nos foi dada gratuitamente e que vai sendo constituída por fragmentos de ser e tempo, o nosso Eu é o primeiro e único tema que se mantém sempre recorrente e sempre sonhado, porque sempre semi-recordado e sempre semi-previsto.
Inventamo-nos a partir das nossas sensações. E esta invenção/obra/eu ficcional tem a enorme capacidade de unir momentos separados no tempo e que provocam uma excitação desenfreada nos neurónios quando algumas e determinadas sensações (existentes e silenciosamente guardadas no baú da memória), se tornam visíveis e entram no fluxo da consciência. Consciência que exige um Eu perspicaz, premonitório e lúcido. Sempre que a perspicácia, a premonição e a lucidez do nosso Eu entram em acção e se impõem, damos por nós a dizer:
- Hoje estou muiiittto cansada(o), trabalhei um ano inteirinho (sete dias por semana); quero férias.
Alguém disse que o Eu é a nossa ostra central de percepção; e se não foi essa a expressão utilizada, bem podia ter sido, dado que é uma expressão bonita e prenhe de sentidos. Ponto... Porque agora tenho que me concentrar numa rebelião de neurónios contestatários que nunca imaginei que pudesse acontecer tão inopinadamente; numa primeira impressão, parece-me que estão intoleravelmente "gregos". 
E para a descrever agora, não tenho palavras à mão!

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