Tosco rascunho de um texto em construção

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes
Sophia de Mello Breyner Anderson


Esta quadra da imortal Sophia foi o mote que escolhi para iniciar a construção de um texto diferente, partindo para a exploração da ideia de que há proteínas sentimentais; por exemplo, a surpresa de uma informação emocional inesperada, desencadeia memórias que existem no tempo (no nosso tempo) como uma espécie de tapetes mágicos dobrados delicadamente na nossa mente.
Porquê e como é que essas memórias se limitam (durante anos) a ficar escondidas no cérebro, esperando, com toda a paciência, por essa informação emocional inesperada que, por sua vez, desencadeia uma surpresa/lembrança como aparição? Eis a dupla questão/ponto de partida em forma de hipótese a desenvolver metodicamente.
Suspeito que a lembrança das coisas passadas não é necessariamente a lembrança de como as coisas eram, porque a memória só obedece a si mesma e, sendo assim, o passado nunca é o passado: o passado é sempre o espelho de um futuro a construir.
É por isso que, enquanto estivermos vivos, as nossas memórias se mantêm extraordinariamente voláteis para que a consciência não se divorcie das sensações. 
A verdade é que eu sinto que é assim...
Mas não sei porquê.
Ou será que sei?

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