A laranja da China
É provável que tenham sido os árabes (laranja em arábico diz-se naranj) a introduzir a laranjeira doce no território que hoje é Portugal. Mas foi uma espécie particular de laranja, a laranja da China (“citrus aurantium sinensis Gall” é o nome científico para designar “laranjeira da China”) trazida do Oriente pelos marinheiros portugueses, que transformou Portugal em nome de fruta. A prova é que quando, a partir do fim do século XVI, toda a laranja doce passou a ser vendida como laranja da China, nalguns países laranja doce passou a designar-se pelo nome Portugal: em Itália (portogallo), na Grécia (portugalês) e até no Curdistão (portoghal).
Atentemos no que, em 1610, nos diz Duarte Nunes de Leão na sua “Descrição do Reino de Portugal”: “Em Lisboa (…) cujas quintãs são todas uns jardins em que para perpetua verdura plantão laranjaes, della carregão sempre os estrangeiros que a ella vem dos Estados da Flandres, e outras partes do Norte para Inglaterra infinidade de laranjas e limões: e de cada um dos logares do seu contorno se poderião muitas províncias sustentar e encher dessa fructa, como são os mosteiros de Bethlem, de S. Bento, e das quintãs que vão ao longo do Tejo até Povos, de Sintra, de Collares e da ribeira de Barcarena”. E continua Duarte Nunes de Leão, referindo-se à produtividade de laranjas no Norte, Beiras e Alentejo: “Finalmente desta fruta he tão provida a terra que na Primavera em qualquer logar que se ache huma pessoa lhe cheirará a flor de laranja”.
Tivemos oportunidade de perceber que vem de longe a paixão pela laranja doce da China quando, com “canetas de ouro e tinta da China”, se assinou em Portugal um contrato de venda à China da parte maioritária de uma empresa portuguesa de energia (outros contratos se seguirão, parece!). Os marinheiros portugueses aproveitavam as qualidades terapêuticas do sumo de laranja para combater o escorbuto conhecido por “mal- de - Luanda”; nós, nos dias de hoje, sentindo o sabor doce das laranjas da China, continuamos a sonhar com o mítico Jardim das Hespérides onde, segundo os gregos, havia uma árvore que produzia maças de ouro.
Lá longe no tempo (no século XVII), no reino dos laranjais havia dinamismo e não faltava empreendedorismo; havia iniciativa e arrojo porque fora nesse reino que se tinha forjado a “fera e indómita gente”. Em 1635 foi notícia a plantação de uma laranjeira, vinda da China, num jardim de Xabregas que pertencia ao governador de Macau, D. Francisco de Mascarenhas. Quase quatrocentos anos depois, foi notícia “um negócio da China” realizado num “jardim à beira mar plantado”e na presença de um outro Macau e de um outro governador.
Será mesmo verdade que a laranja da China também é doce quando amarga?
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ResponderEliminarO tema é deveras importante é, aliás, demasiado importante para que possamos encolher os ombros e fazermos de conta que não o vemos, ou pior, que nada temos a ver com isto.
ResponderEliminarDe facto, hoje, um grande número de jovens revela, em sociedade, total ausência de valores: egoísmo, palavrões que fazem corar as pedras da calçada, brutalidade, isto são apenas alguns exemplos.
Dizer-se que a culpa é dos jovens? Alguma será, sobretudo dos mais velhinhos; da escola? Uma parte será; mas a grande responsabilidade deste estado de coisas é nossa, dos pais. Sim, somos nós os pais os primeiros responsáveis pela educação dos nossos filhos! Cabe-nos a nós, pais, a transmissão dos valores aos nossos descendentes.
A educação dos nossos filhos é demasiado importante para a entregarmos à escola. Acresce que “é de pequenino que se torce o pepino” ou “tem educação de berço” – expressões populares que reforçam a afirmação: a responsabilidade pela educação dos filhos é dos pais; as outras instituições são importantes mas supletivas neste processo.
Concordo que estes jovens se pautam por valores, são é antissociais.
É muito interessante o seu artigo sobre a "laranja da China", dada a pouca informação disponível sobre o assunto.
ResponderEliminarNão entendo, nem aceito, que em Portugal não se tenha ainda feito a história da laranja, da sua introdução na Europa e a sua expansão pelo mundo, pois somos o lugar onde essa história deveria ser feita, pela importância dessa expansão/globalização.
No século XVIII, foi moda na Europa plantar-se laranjais em orangeries, sendo a laranja então considerada uma fruta tropical rara, digna de elites. Hoje, é um dos frutos, senão o fruto, mais popular do mundo.
Á semelhança do que acontece noutras áreas, que não sabemos valorizar, nem preservar, será possivelmente um estrangeiro a elaborá-la um dia...