Carta a um jovem que apenas conheceu a mãe morta

Quero que leias com atenção o que te vou dizer e que depois perguntes (quando te apetecer, claro!) aos teus educadores e aos teus professores o que são e o que significam os sentimentos e as emoções que tu viveste quando, durante toda a tua vida apenas viste a tua mãe já morta e no dia em que te levaram ao seu funeral. São sentimentos que ainda sentes e não sabes explicar. 
Eu identifico três.
O medo: agora não penses nisso, é o que dizem… mas eu sei que foi o momento em que te sentiste mais incompreendido e isolado.
A culpabilidade: tu não tens qualquer culpa, insistem contigo… mas eu percebo o teu sentimento de culpabilidade não resolvido.
A cólera: claro que sei que se trata de uma injustiça (nunca te deixaram ver e falar com a tua mãe viva) e sei que se trata de uma tristeza imensa que te impede de chorar…Mas quero que digas: mãe, eu deixo-te partir e desejo-te boa sorte.
Vais ver que és capaz de encontrar uma nova forma de pensar e de estar na vida, vais conseguir adaptar-te à realidade e vais passar a ser um bom aluno e um amigo dos teus amigos, porque começarás a gostar mais de ti. Até nem sei quem foi que me disse que tinhas uma amiga especial que também gosta de ti e a quem, a partir de agora, vais dar mais atenção e mais carinho. 
Mas quando te apetecer chorar, não te preocupes porque isso é um sinal de força e é um sinal de capacidade para olhar a vida de forma diferente. Nós, os adultos, é que fomos habituados a pensar que chorar é só um sinal de tristeza e fraqueza e fomos habituados a condenar a tristeza. Mas isso não está correcto porque devemos viver as nossas emoções com honestidade, devemos deixar que elas se exprimam e que se libertem de forma saudável. Tem a certeza, e podes acreditar, que se trata de um acto de coragem quando deixamos e fazemos com que tal aconteça.
Já agora deixo-te um pequeno conselho. Não tenhas medo de ser diferente e conta com a presença dos que estão perto de ti porque eles são teus amigos, gostam de ti como tu és e gostam muito de te ver rir. Por acaso alguma vez pensaste que gostar de alguém é deixar que essa pessoa possa escolher a sua maneira de ser? Pois sim… mas é conveniente que descubras que a forma de te relacionares com os teus amigos e de modo muito especial com a tua amiga, se traduz numa expressão simples: dar é receber.
Termino, oferecendo-te um pequeno poema.
Eu estou junto à praia.
Uma gaivota voa na brisa da manhã,
e parte para o oceano.
Ela é a beleza,
ela é a vida.
Eu continuo a olhá-la até que desaparece no horizonte.
Alguém perto de mim diz:
ela partiu!
Partiu para onde?
Partiu do meu olhar,
mais nada!
O seu lugar é sempre muito alto.
Mas, naquele momento, alguns junto de mim insistem:
ela partiu.
Mas havia outros que,
apontando o dedo para o horizonte,
exclamavam com alegria:
olha a gaivota!

Trata bem de ti, vê se estudas, vai dando notícias...

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